This article, which is dedicated to portraits produced in the early 20th century using trick photography and to the historical and ontological relationship between photography and mirrors, is based on the assumption that it is necessary to think about the history of photography in an integrated manner, framing it in the broader context of media history and of more general theoretical questions such as the relationship between human beings and technology, the mediation between reality and imagination, and the interactions between the so-called “new” and “old” media. Mirrors and photography are means related, on the one hand, to pre-cinematographic shows and to the cinema itself, and on the other hand, to scientific devices, such as the telescope and microscope, which deserve to be rethought in terms of their mutual ambivalence. Configuring an “absolutely unreal” and “absolutely real” space, as suggested by the French philosopher Michel Foucault (1984/2005, p. 246), mirrors, like photography, became a paradigmatic example of a heterotopic space. In the history of photography and, in particular, of portraits using trick photography produced in the early decades of the 20th century, there was a marked use of mirrors and doubles, as devices able to present the disruption of human figure. We are referring to double portraits, photo- multigraphs and photography using distorting mirrors (Bergeret & Drouin, 1893; Chaplot, 1904; Hopkins, 1897; Schnauss, 1890/1891; Woodbury, 1896/1905). Starting from a predisposition to rethink about the tradition of fantasy and trick photography in the general context of media history, we propose to retrace affinities between two “heterotopic” spaces - photography and mirrors.
Resumo: O presente artigo, dedicado à produção retratística fotográfica lúdica do início do século XX, e à relação histórica e ontológica entre a fotografia e o espelho, parte do pressuposto segundo o qual seria necessário pensar a história da fotografia de modo integrado, enquadrando-a no contexto mais alargado da história dos média e de questões teóricas mais vastas como a relação entre a tecnologia e o humano, a mediação entre o real e o imaginário, e as interações entre os ditos novos e velhos média. O espelho e a fotografia são dois objetos, aparentados, por um lado, aos espetáculos pré-cinematográficos e ao próprio cinema, e por outro, aos aparelhos científicos, como o telescópio e o microscópio, que merecem ser repensados no que diz respeito à ambivalência que os aproxima. Configurando um espaço “absolutamente irreal” e “absolutamente real”, conforme sugeriu o filósofo Michel Foucault (1984/2005, p. 246) a propósito do espelho, o espelho, como a fotografia, seria exemplar de um espaço heterotópico. Na história da fotografia e, particularmente do retrato fotográfico lúdico das primeiras décadas do século XX, é assinalável o recurso ao espelho e ao duplo, enquanto dispositivo capaz de potenciar a destabilização da figura humana: referimo-nos ao retrato duplo, à multifotografiae à fotografia com recurso a espelhos deformantes(Bergeret & Drouin, 1893; Chaplot, 1904; Hopkins, 1897; Schnauss, 1890/1891; Woodbury, 1896/1905). Partindo de uma predisposição para repensar a tradição lúdica e fantasista no âmbito geral da história dos média, propomo-nos retraçar afinidades entre dois espaços “heterotópicos”, que são a fotografia e o espelho.