Resumo Este artigo realiza uma análise socioantropológica do Tem Açúcar?, um aplicativo criado em nome do consumo colaborativo, destinado a empréstimos, doações e troca de objetos entre vizinhos das grandes cidades. Situando a discussão no contexto das novas mobilizações coletivas organizadas em nome da solidariedade, adere-se à proposta de utilizar o marco interpretativo da dádiva, herdado da escola socioantropológica francesa, para uma melhor compreensão do fenómeno. Busca-se compreender as experiências e percepções de seus usuários e refletir sobre os aspectos que potencializam e limitam o propósito dessa rede sociotécnica no Rio de Janeiro, Brasil. Adota-se a fenomenologia interpretativa, incluindo observação, interação e entrevistas com usuários para descrever e analisar a aderência aos valores centrais do aplicativo, o sentido atribuído aos tipos de objetos que circulam, a forma como ocorrem os encontros e o papel da confiança para a viabilidade da reciprocidade. Além de um forte compromisso com a causa da redução do consumo e do fomento da colaboração e confiança entre vizinhos, o princípio da dádiva é defendido nessas práticas, que devem ser entendidas sob um enfoque anti-utilitarista. Ao mesmo tempo, a confiança é essencial para a materialização das trocas e sua construção depende da avaliação social do usuário, sua reputação e comentários em seu perfil.
Abstract This paper carries out a socio-anthropological analysis of Tem Açúcar?, a mobile application created in the name of collaborative consumption, intended for objects loans, donations and exchanges between neighbors of large cities. Placing the discussion in the context of the new collective mobilizations organized in the name of solidarity, it adheres to the interpretative framework of the gift, inherited from the French socio-anthropological school, for a better understanding of the phenomenon. It seeks to understand the experiences and perceptions of its users and reflects on the aspects that enhance and limit the purpose of this socio-technical network in Rio de Janeiro. Interpretative phenomenology is adopted, including observation, interaction and interviews with users to describe and analyze the adherence to the app values, the types of objects that circulate, the way in which encounters occur and the role of trust in the viability of reciprocity relationships. In addition to a strong commitment to the cause of reducing the consumption and the promotion of collaboration and trust among neighbors, the principle of the gift was verified in this sociotechnical network in practices that can only be understood under an anti-utilitarian approach. At the same time, trust is an essential factor for the materialization of exchanges and its construction depends on the reputation of the user, as well as the comments of third parties on their profile.
Resumen Este artículo realiza un análisis socioantropológico de Tem Açúcar?, una aplicación tecnológica creada en nombre del consumo colaborativo, destinada a préstamos, donaciones e intercambios de objetos entre vecinos de grandes ciudades. Ubicando la discusión en la coyuntura de las nuevas movilizaciones colectivas organizadas en nombre de la solidaridad, se adhiere a la propuesta de utilizar el marco interpretativo del don, heredado de la escuela socioantropológica francesa, para una mejor comprensión del fenómeno. Se busca comprender las experiencias y percepciones de sus usuarios, y reflexionar sobre los aspectos que potencian y limitan el propósito de esta red sociotécnica en Río de Janeiro, Brasil. Se adopta la fenomenología interpretativa, incluyendo observación, interacción y entrevistas con usuarios para describir y analizar la adherencia a los valores centrales de la aplicación, el sentido atribuido a los tipos de objetos que circulan, la forma en que ocurren los encuentros y el papel de la confianza para la viabilidad de la reciprocidad. Además de un fuerte compromiso con la causa de reducción del consumo y del fomento de la colaboración y confianza entre vecinos, el principio del don es defendido en estas prácticas, que deben entenderse bajo un enfoque anti-utilitarista. Al mismo tiempo, la confianza es esencial para la materialización de los intercambios y su construcción depende de la evaluación social del usuario, su reputación y comentarios en su perfil.