Resumo O artigo propõese estudar a relação entre a música e as figuras da mulher representadas no filme Safo, história de uma paixão dirigida por Carlos Hugo Christensen. O diretor inaugura uma mudança na cinematografía da época ao introduzir no início da década do '40 temáticas audaciosos como o erotismo, as paixões turbulentas, o suicídio, as traições ou o divórcio. O encarregado da música é George Andreani, um compositor nascido em Varsovia em 1901 formado musicalmente em Berlim, Viena e Praga, e que dantes de chegar à Argentina fugindo do nazismo, já tinha composto numerosas bandas musicais e recebido prêmios em Checoslovaquia e França. A partir do filme O inglês dos güesos (1940), Christensen e Andreani formam um tándem estreito entre diretor e compositor, como fica evidenciado nos mais de vinte títulos nos que trabalham juntos. A coesão composicional da música está baseada fundamentalmente no uso do leitmotiv de impronta wagneriana que se apresenta associado às personagens de Selva, a femme fatal, Irene a adolescente ingénua e Teresa, a tia santa. Em forma paralela à construção musical das personagens, a banda musical aderese ao arco dramático sublinhando os climas e emoções. Andreani maneja a orquestração com perícia através de um uso rico e contrastante da paleta tímbrica, explodindo os recursos das linguagens romântico e pós-romântico. A personagem de Selva (a femme fatal) interpretado por Mecha Ortiz está sócio leitmotívicamente a um vals lento e pastoso, trabalhado com ritmos apuntillados e com a melodia a cargo das cordas, tocada com portamentos connotando a sensualidade e densidade desta mulher experimentada. É o motivo mais desenvolvido ao longo do filme e o que sofre as maiores transformações. Sua progressiva ruptura e fragmentação construída mediante contrastes de registro, orquestração e ritmos, gera a variedade de climas conforme a trama se tensiona. Em contraste, o motivo musical de Irene (a ingênua) interpretado por Mirtha Legrand é elegante e brilhante, sócio ao tópico musical do minuet. A trilha corrente apresenta um terceiro motivo, associado a Teresa (a tia do protagonista) construído em base ao tópico da “manhã”, de carácter pastoral e bucólico não só representa à personagem senão também ao espaço rural idílico e católico. Uma das descobertas do trabalho é a relação entre os estereótipos de mulher que apare-cem nos filmes e seu trascendencia para além da tela na vida das actrizes, questão que se verifica na representação das estrelas do cinema nas revistas da época de maneira análoga às figuras que representam nos filmes, tanto nas fotografias como os textos e entrevistas. O artigo leva a abordagem no enfoque teórico à teoria de gênero, em particular, aos aplicativos desta perspectiva para estudar o cinema e a música, como o trabalho pioneiro de Laura Mulvey para o cinema clássico (Mulvey, 2001), o livro germinal de Susan McClary que aborda a música desde uma musicología feminista (McClary, 2002) e os enfoques mais recentes de Pilar Ramos López (Ramos López, 2003) e Laura Viñuela (Viñuela Suárez, 2003). Para a abordagem da análise musical consideramos à Teoria Tópica, (Ratner, 1980) que permite desvendar a construção do sentido musical através dos tópicos como unidades discursivas que cobram sentido num contexto sociocultural. Metodologicamente, fizemos um cruzamento entre as ferramentas da análise musical com a análise de filmes cruzados com o marco teórico proposto e complementado com fontes documentais como entrevistas e artigos de imprensa da época.
Abstract The article aims to study the relationship between music and the figures of women represented in the film Sapho, a passion story directed by Carlos Hugo Christensen. The director inaugurated a change in the cinematography of that time by introducing at the beginning of the 40s audacious subjects such as eroticism, turbulent passions, suicide, betrayals or divorce. The music was commanded to George Andreani, a composer born in Warsaw in 1901 who is formed musically in Berlin, Vienna, and Prague, and who before arriving in Argentina fleeing from Nazism, had already composed numerous soundtracks, and received awards in Czechoslovakia and France. From the film El inglés de los güesos (1940), Christensen and Andreani formed a close tandem between director and composer, as evidenced by the more than twenty titles in which they worked together. The compositional cohesion of the music is based fundamentally on the use of the leit-motif of a Wagnerian imprint that is associated with the characters of Selva, the femme fatal, Irene the naive adolescent and Teresa, the puritanical aunt. Parallel to the musical construction of the characters, the musical soundtrack adheres to the dramatic arc under-lining the moods and emotions. Andreani handles orchestration with expertise through a rich and contrasting use of the timbral palette, exploiting the resources of Romantic and Post-romantic languages. The character of Selva (the femme fatal) played by Mecha Ortiz is leitmotivistically associated with a slow and pasty waltz, worked with dotted rhythms and with the tune played by the strings, with portamentos connoting the sensuality and density of this experienced woman. It is the most developed musical motif throughout the film and the one that suffers the greatest transformations. Its progressive rupture and fragmentation built by contrasts of register, orchestration, and rhythms generate the variety of moods as the plot is stressed. As a contrast, the musical motif of Irene (the naive) played by Mirtha Legrand is elegant and brilliant, associated with the musical topic of the minuet. The soundtrack presents a third motif, associated with Teresa (the protagonist's aunt) built on the topic of "the morning”, a pastoral and bucolic style that not only represents the character but also the idyllic and Catholic rural space. One of the findings of the work is the relationship between the stereotypes of women that appear in the films and their transcendence beyond the screen in the lives of the actresses. This issue is verified in the representation of movie stars in the magazines of the time analogously to the figures they represent in the films, both in the photographs as well as in the texts and interviews. The article takes as a theoretical approach to gender theory, in particular, to the applications of this perspective to study film and music, such as the pioneering work of Laura Mulvey for classical cinema (Mulvey, 2001), the germinal book of Susan McClary, who approaches music from a feminist musicology (McClary, 2002) and the most recent approaches by Pilar Ramos López (Ramos López, 2003) and Laura Viñuela (Viñuela Suárez, 2003). For the approach of musical analysis, we consider the Topical Theory, (Ratner, 1980) that allows unraveling the construction of the musical sense through the topics as discursive units that make sense in a sociocultural context. Methodologically, we made a cross between the tools of musical analysis with film analysis crossed with the proposed theoretical framework and supplemented with documentary sources such as interviews and press articles of the time.
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