Resumo Uma obra e um mito, cujo percurso começou no século X, nos meios da Chancelaria Califal de Córdova, durante o reinado de ‘Abd al-Raḥmān III, e cujos conteúdos e informações ainda hoje se mantêm válidos e suscitando vários e variados estudos. Obra a que está vinculado um nome, “al-Rāzī”, cuja versão latinizada, “Rasis”, acabou colada à primeira tradução para português, que desde o século XIII passou a transmitir aquela memória, e depois para a tradução da versão portuguesa para castelhano, onde se fixou. O texto que serviu de base àquela primeira tradução portuguesa, e a partir da qual surgiu a atribuição a “Rasis”, já era, de facto, a obra de Ibn Ġālib, uma refundição do século XII. O texto da primeira tradução passou por várias mãos, lugares e situações até desaparecer no Terramoto de 1755. A tradução castelhana e a Crónica Geral de Espanha de 1344, que teve aquela primeira como fonte, permitiram reconstituir o texto da tradução perdida. Ao longo dos séculos XIX e XX, edições e traduções de textos árabes suscitaram a ideia de uma possível recriação da matriz árabe perdida.
Abstract A work and a myth, whose journey began in the 10th century, in the Califal Chancellery of Córdoba, during the reign of ‘Abd al-Raḥmān III, and whose contents and information are still valid today and giving rise to several and varied studies. A work to which a name is linked, “al-Rāzī”, whose Latinized version, “Rasis”, ended up being glued to the first translation into Portuguese, which since the 13th century began to transmit that memory, and then to the translation of the Portuguese version into Castilian, where it settled. The text that served as the basis for that first Portuguese translation, and from which that attribution to “Rasis” arose, was already, in fact, the work of Ibn Ġālib, a 12th century recast. The text of the first translation passed through several hands, places and situations until it disappeared in the earthquake of 1755. The Castilian translation and the Crónica General de Espanha of 1344, which had the former as its source, allowed us to reconstruct the text of the lost translation. Throughout the 19th and 20th centuries, editions and translations of Arabic texts raised the idea of a possible recreation of the lost Arabic matrix.