Abstract Irene Lisboa (1892-1958) was a chronicler or literary journalist who used the voices of real characters or source characters and her own to expose and critique the sociopolitical landscape, drawing from her immersive observations. As anti-regime publications, the magazines Seara Nova and presença, folha de arte e crítica, sought ways to resist and denounce the idealised portrayal of the country, its people, and, consequently, its women. This study aims to explore the representation of violence against women during the Portuguese dictatorship from a discursive and narrative perspective, using Irene Lisboa’s chronicles published in Seara Nova and presença, folha de arte e crítica, between 1929 and 1955. The findings highlight the author’s depiction of a woman victim of violence from the State, her family, and society. The figure Lisboa represents embodies a dual identity. On one hand, she is the bourgeois woman shaped by prejudice and subservience. On the other, she embodies the working-class woman, also grappling with gender and power dynamics that dehumanise her both personally and as a woman. This contrasts sharply with the idealisation promoted by the regime.
Resumo Irene Lisboa (1892-1958) foi uma cronista, ou jornalista literária, que, a partir da voz de personagens reais ou personagens-fonte e da sua própria voz, apresenta um discurso de denúncia do cenário sociopolítico, resultado da sua posição imersiva nos locais de observação. Como revistas antirregime, e por isso censuradas, a Seara Nova e a presença, folha de arte e crítica, através dos seus autores, tentaram encontrar meios de resistir e, ao mesmo tempo, denunciar um país, um povo e, consequentemente, uma mulher idealizados. Assim, neste estudo, pretende-se compreender a representação da violência contra a mulher durante a ditadura portuguesa, numa perspetiva discursiva e narrativa, a partir do corpus cronístico de Irene Lisboa, publicado nas revistas Seara Nova e presença, folha de arte e crítica, no período entre 1929 e 1955. As conclusões apontam no sentido de que a autora deixa representada uma mulher vítima de violência exercida pelo Estado, pela família e pela sociedade. A mulher representada por Lisboa é um ser dual. Por um lado, a mulher burguesa que é formada pelo preconceito e pelo servilismo; por outro lado, a mulher do povo, também sujeita às questões de género e de poder que a desumanizam enquanto pessoa e mulher; e ambas longe da mulher idealizada pelo regime.