Resumo: O objetivo foi comparar o consumo alimentar da população de Coari, Amazonas, Brasil, segundo a Classificação NOVA, durante as fases hidrológicas de seca e inundação dos rios amazônicos. Realizou-se um estudo epidemiológico, de base populacional e transversal. A amostra foi composta por 457 indivíduos adultos e a coleta de dados foi realizada em dois momentos, mediante um instrumento sociodemográfico, um recordatório alimentar de 24 horas, e um questionário de frequência alimentar adaptado para os hábitos locais. Os dados foram analisados pelo programa estatístico R versão 4.2.4, por meio dos testes qui-quadrado de Pearson, exato de Fischer e de Bhapkar. A amostra foi composta predominantemente pelo sexo feminino (seca = 70%/inundação = 71,2%) e pardos (seca = 65,4%/inundação = 66,2%). As refeições (café da manhã, almoço e jantar) foram realizadas pela maior parte dos entrevistados. O lanche da tarde foi a refeição intermediária mais realizada, principalmente na inundação (274/70,2%). Predominou-se o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados nas três principais refeições (95%). Os ultraprocessados são pouco ou não são consumidos e foram citados especialmente na seca (152/33,3%; p = 0,007). Em contrapartida, o consumo de alimentos regionais (tucumã, beiju, farinha de tapioca e açaí) aumentou durante a inundação (p < 0,001). O consumo de alimentos in natura ou minimamente processados continua sendo a base da alimentação no interior do Amazonas, predominando alimentos regionais na inundação e alimentos processados e ultraprocessados na seca, demonstrando a influência, ainda que sutil, das fases hidrológicas no consumo alimentar dessa população.
Abstract: The aim of this study was to compare the food consumption of the population of Coari, Amazonas State, Brazil, according to the NOVA Classification, during the hydrological phases of drought and flooding of the Amazon rivers. An epidemiological, population-based, cross-sectional study was carried out. The sample consisted of 457 adult individuals. Data were collected in two stages using a sociodemographic instrument, a 24-hour food recall and a food frequency questionnaire adapted to local habits. The data were analyzed using the statistical program R version 4.2.4, using Pearson’s chi-square, Fischer’s exact and Bhapkar’s tests. The sample was predominantly female (drought = 70%/flood = 71.2%) and brown (drought = 65.4%/flood = 66.2%). Most of the interviewees ate meals (breakfast, lunch and dinner). Afternoon snacks were the most common intermediate meal, especially during flooding (274/70.2%). In natura or minimally processed foods predominated at the three main meals (95%). Ultra-processed foods were consumed little or not at all and were mentioned especially during the drought (152/33.3%; p = 0.007). On the other hand, consumption of regional foods (tucumã, beiju, tapioca flour and açaí) increased during the flood (p < 0.001). Consumption of in natura or minimally processed foods continues to be the mainstay of the diet in the interior of Amazonas, with a predominance of regional foods during the flood and processed and ultra-processed foods during the drought, demonstrating the influence, albeit subtle, of the hydrological phases on the food consumption of this population.
Resumen: El objetivo de este estudio fue comparar el consumo de alimentos de la población de Coari, Amazonas, Brasil, según la Clasificación NOVA, durante las fases hidrológicas de sequía e inundación de los ríos amazónicos. Se trató de un estudio epidemiológico, poblacional y transversal. La muestra estuvo conformada por 457 individuos adultos. Los datos se recogieron en dos etapas mediante un instrumento sociodemográfico, un recordatorio de alimentos las 24 horas, y un cuestionario de frecuencia alimentar adaptado a las costumbres locales. Para el análisis de datos se utilizó el programa estadístico R versión 4.2.4, mediante las pruebas chi-cuadrado de Pearson, exacto de Fisher y de Bhapkar. Hubo un mayor predominio del sexo femenino (sequía = 70%/inundación = 71,2%) y de pardos (sequía = 65,4%/inundación = 66,2%). La mayoría de los entrevistados tuvieron sus comidas (desayuno, almuerzo y cena) en el período analizado. La merienda fue la comida intermedia más frecuente, especialmente en la inundación (274/70,2%). El consumo de alimentos in natura o mínimamente procesados predominó en las tres comidas principales (95%). Los productos ultraprocesados fueron poco o nada consumidos y se los mencionaron especialmente en la sequía (152/33,3%; p = 0,007). Por otro lado, el consumo de alimentos regionales (tucumã, beiju, harina de tapioca y açaí) tuvo un aumento durante la inundación (p < 0,001). El consumo de alimentos in natura o mínimamente procesados sigue siendo la base alimentar en el interior de la Amazonía, con predominio en el consumo de alimentos regionales en la inundación y de alimentos procesados y ultraprocesados en la sequía, lo que evidencia la influencia, aunque discreta, de las fases hidrológicas en el consumo de alimentos de esta población.