A região tropical do Atlântico Sul ocidental, que inclui uma porção substancial da Zona Econômica Exclusiva brasileira, é uma região de endemismo amplamente reconhecida como sendo de importância primária para a conservação da biodiversidade marinha. A costa norte do Brasil, que inclui os Estados do Amapá, Pará, e Maranhão, desde a foz do rio Oiapoque até a foz do rio Parnaíba, abriga o maior manguezal contínuo do mundo, com aproximadamente 8.900 km2. A alta descarga de água doce e sedimentos continentais no delta do Amazonas afeta o regime das marés, correntes oceânicas, e uma série de processos oceanográficos da costa norte, com impactos diretos na composição da biota encontrada na região. Apesar de seu valor econômico e relevância biológica intrínseca, diversos aspectos da diversidade de peixes marinhos e estuarinos da região são pouco conhecidos. Esta situação resulta principalmente de um desequilíbrio histórico em termos do número de estudos voltados ao conhecimento da biota marinha ao longo da costa brasileira, como aqueles que tratam do inventariamento de espécies e revisões taxonômicas, que são tipicamente concentrados nas porções sul e sudeste do país. A produção científica focalizada nos organismos marinhos da costa norte também é desequilibrada e reflete o número relativamente baixo de taxonomistas e grupos de pesquisa trabalhando com o tema. O conhecimento insuficiente da biodiversidade dos peixes marinhos e estuarinos da costa norte é um impedimento à implantação de políticas públicas adequadas voltadas para o manejo dos recursos naturais na região. À longo prazo, essa situação é potencialmente prejudicial em termos da conservação de uma biota ainda pouco conhecida. Um melhor conhecimento da fauna de peixes marinhos da costa norte do Brasil será atingido apenas através do investimento em pesquisas científicas e formação de pessoal em sistemática e biogeografia, acoplado à modernização da infra-estrutura e expansão das coleções científicas da região.
The tropical western South Atlantic, which includes a substantial portion of the Brazilian Exclusive Economic Zone, is a region of endemism broadly recognized as being of prime importance for the conservation of the marine biodiversity. The north coast of Brazil, which comprises the states of Amapá, Pará and Maranhão from the mouth of the rio Oiapoque to the mouth of the rio Parnaíba, harbors the largest continuous mangrove in the world, with approximately 8,900 km2. The high discharge of freshwater and continental sediments in the delta of the Amazonas affects the regime of tides, ocean currents, and several oceanographic processes of the north coast, with direct impact on the composition of the biota found in the region. Despite its economic value and intrinsic biological relevance, several aspects of the diversity of the marine and estuarine fishes of the region are poorly known. This situation results mainly from a historical imbalance in terms of the number of studies devoted to increasing the knowledge of the marine biota along the Brazilian coast, such as those dealing with species inventory and taxonomic revisions, which are typically concentrated in the south and southwestern portions of the country. The scientific production focused on marine organisms of the north coast is also imbalanced, and reflects the relatively small number of taxonomists and research groups working on that subject. The insufficient knowledge of the biodiversity of the marine and estuarine fishes of the north coast is an impediment to the implementation of adequate public policies aimed at the management of natural resources in the region. In the long term, that situation is potentially harmful in terms of conservation of a still poorly known biota. A better understanding of the marine fish fauna of the north coast of Brazil will be achieved only through the investment in scientific research and personnel training in systematics and biogeography, coupled with the modernization of the current infrastructure and expansion of scientific collections of the region.