Resumo Introdução: A epidemic intelligence (EI) assegura a deteção precoce, a avaliação e a comunicação das ameaças para a saúde pública para definir prioridades e mobilizar recursos para a investigação, vigilância, prevenção e controlo. Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) é responsável pela EI e publica semanalmente um relatório de ameaças para a saúde pública (RONDA) que é partilhado com a rede de autoridades de saúde, instituições e profissionais de saúde pública. As alterações nas ameaças comunicadas em relatórios periódicos de ameaças desde a COVID-19 não foram descritas anteriormente. Métodos: Comparámos as ameaças reportadas na RONDA entre 2016 a 2022 em três períodos sequenciais: antes da COVID-19 (janeiro de 2016 - março de 2020), P2 durante as restrições (abril de 2020 - fevereiro de 2022) e P3 na fase pós-aguda da COVID-19 (fevereiro de 2022 - setembro de 2022). Comparamos a frequência média mensal de ameaças não COVID-19 relatadas entre todas as ameaças relatadas nesses períodos, considerando diferentes categorias dentro do grupo de doenças, foco geográfico e fontes de informação. Resultados: As ameaças não-COVID-19 tiveram uma diminuição na frequência média mensal de reporte no Período2 (14,7 vs. 2,3 p < 0.001) em comparação com o Período1, antes da COVID-19. Houve um retorno ao padrão pré-pandêmico de notificação no Período 3 (14,67 vs. 17,63 p < 0.208) para ameaças não COVID-19 com um aumento nas doenças virais emergentes (2,20 vs. 7,62 p < 0.001). O ECDC e a OMS são as fontes de informação mais frequentes, seguidas das fontes nacionais de saúde pública. Conclusões: Durante a COVID-19, houve alterações no reporte de ameaças em Portugal. A COVID-19 possivelmente afetou a EI e os relatórios de ameaças epidémicas globais, possivelmente desviando a atenção e os recursos de outras ameaças para a pandemia. No entanto, a quantidade de ameaças que justificam o acompanhamento e a comunicação pode estar a aumentar. É necessária investigação em comunicação de ameaças detetadas no âmbito da EI a fim de assegurar que todas as ameaças relevantes são avaliadas e comunicadas de acordo com os objetivos da EI, garantindo simultaneamente o investimento em recursos e a preparação para a prevenção e resposta.
Abstract Background: Epidemic intelligence (EI) ensures early detection, assessment, and communication of public health threats. Threat reporting defines priorities and mobilize resources for surveillance, prevention, and control. In Portugal, the Directorate-General of Health (DGS) is responsible for EI and publishes a weekly public health threat report (RONDA). Changes in threats in regular threat reports since COVID-19 have not been previously described. We analysed changes in non-COVID threat reporting in the weekly threat report. Methods: Using the DGS Emergency Operations Centre’s threat reporting database, we compared threats reported in RONDAs from 2016 to 2022 in three sequential periods: P1 before COVID-19 (January 2016-March 2020), P2 during acute COVID-19 restrictions (April 2020-February 2022), and P3 in post-acute COVID-19 phase (February 2022-September 2022). We described the monthly average frequency of reports on non-COVID-19 threats in those periods considering different disease groups, geographical focus, and information sources. We estimated expected non-COVID-19 reports on threats using a forecast model fitted to the time series until March 2020 and compared observed and expected values. Results: Non-COVID-19 threats had a decrease in the monthly average frequency of reporting in period 2 (14,7 vs. 2,3 p < 0.001) compared to period 1. Using the forecast methods, there were 114 fewer non-COVID threats than the 162 expected (−70%) in period 2. In period 3, there were 105 more threats than expected (+256%). The ECDC and the WHO were the most frequent sources of information followed by national Public Health sources. Conclusions: During COVID-19, there was a decrease in reports on non-COVID threats in Portugal. COVID-19 possibly affected global EI, by shifting attention and resources from other threats to the pandemic. However, the number of threats that warrant follow-up and communication is increasing. Further research is necessary to inform the EI research and development agenda, to ensure that all relevant threats are detected, accessed, and communicated according to evolving EI objectives and priorities while resources and preparedness are guaranteed.