A cardiomioplastia melhora a função ventricular esquerda e a sobrevida de pacientes portadores de cardiomiopatias severas. O objetivo deste estudo é identificar os fatores que influenciaram os resultados da cardiomioplastia em 22 pacientes operados entre maio de 1988 e dezembro de 1991. Todos os pacientes estavam em classe funcional III ou IV, apesar do uso de terapêutica clínica otimizada. Dezoito pacientes tinham diagnóstico de cardiomiopatia idiopática, a cardiomiopatia era chagásica em 2 e isquémica em 2. Não houve óbitos no período pós-operatório imediato e os pacientes foram seguidos por um período médio de 20,5 meses. Nove pacientes faleceram tardiamente e a sobrevida atuarial foi 76,1 % no primeiro ano e 63,8% no segundo ano de seguimento. Seis pacientes estão, atualmente, em classe funcional I, e 7 em classe II. A mortalidade e a manutenção dos sintomas, no primeiro ano pós cardiomioplastia, foi relacionada a ocorrência de tromboembolismo pulmonar e a progressão da insuficiência cardíaca em pacientes com alterações isquémicas do enxerto muscular, no pós-operatório imediato (pico de liberação plasmática da creatinoquinase > 1500 U.I.) (p=0,03). Paralelamente, aelevaçáo da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, documentada aos seis meses de seguimento, foi mais importante em pacientes que apresentaram valores menores de liberação da creatinoquinase após a operação (p=0,02). Já o tamanho da cavidade ventricular esquerda pareceu influenciar a variação da fração de ejeção apenas quando foram retirados da análise os pacientes com comprometimento importante do enxerto muscular (p=0,06). Apesar de não ter havido influência da classe funcional pré-operatória sobre esse parâmetro e sobre a evolução clínica, no primeiro ano de seguimento, os pacientes operados em classe funcional IV apresentaram uma sobrevida, no segundo ano de pós-operatório, significativamente inferior à dos pacientes operados em classe III (33,3% versus 78,1%, p=0,04). Em conclusão, a melhora da função ventricular esquerda e a melhor evolução clínica após a cardiomioplastia podem ser limitadas pela ocorrência de lesão isquémica do enxerto muscular. A condição clínica pré-operatória, bem como o grau de dilatação das câmaras ventriculares, são, também, fatores importantes para o sucesso deste procedimento no tratamento das cardiomiopatias.
Dynamic cardiomyoplasty improves left ventricular function and survival of patients with severe cardiomyopathies. The purpose of this study was to investigate the factors influencing cardiomyoplasty results in 22 patients operated upon at the Heart Institute. All patients were in New York Heart Association class III or IV, despite the use of maximal medical therapy. Eighteen patients had idiopathic dilated cardiomyopathy, in two patients the cardiomyopathy was due to Chagas' disease and in two due to ischemic ethiology. There were no operative death and patients were followed up for a mean of 20.5 months. Nine patients died at late follow-up period, and actuarial survival rates were 76.1% at 1 year and 63.8% at 2 years of follow-up. Six patients are presently in functional class I and six in class II. The mortality and the absence of functional improvement at 1 year were associated to episodes of pulmonary thromboelbolysm and to heart failure progression in patients with severe muscle flap ischemic compromise at the immediate postoperative period (creatinokinase peak level > 14001. U.) (p=0.03). In addition, the improvement of left ventricular ejection fraction at 6 months of follow-up was more significant in patients who presented lower values of creatinokinase after the surgical procedure (p=0.02). Otherwise, the influence of left ventricular dimension on ejection fraction changes was documented only when patients with severe muscle flap compromise were withdrawn from the analysis (p=0.06). Despite the absence of functional class influence on 1 year results of cardiomyoplasty, patients operated upon in class IV presented a less significant survival than patients operated upon in class III at 2 years of follow-up (33.3% versus 78.1 %, p= 0.04). In conclusion, quality of life and left ventricular function improvement after cardiomyoplasty may be limited by muscle flap ischemic compromise. Patient's condition prior to surgery and the degree of left ventricular dilation may also influence cardiomyoplasty results in patients with severe cardiomyopathies.