Abstract The racial and sexual oppression of Black Brazilian women is, as Lélia Gonzalez (2020) argues, one of the most perceptible yet consistently denied colonial legacies in the country. One of the myths perpetuating the erasure of Brazil's history of enslavement has established an official narrative portraying the nation as a racial paradise. However, when examining records of femicide, intimate partner violence and sexual abuse, it becomes evident that Black women are the most victimised. Faced with the impossibility of repairing the damage caused by the historical legacy of enslavement, which subjected Black women to multifaceted forms of violation, it falls upon us to eradicate all the structural conditions that perpetuate them as the primary targets of violence and dehumanisation. In this article, we delve into what Silvia Rivera Cusicanqui (2015) describes as "taypi" a "middle-world" and an intermediate space where it is possible to witness the interaction between contrasting forms without the boundaries between them disappearing. These contact zones, however, can be permeated by violence when the opposites brought into contact are hierarchised by the colonial context, as Blacks, Indig and Whites were racialised in Brazil. Drawing inspiration from the displacements of times and spaces that are reinformed, the proposal of the taypis of racist imaginaries brings into contact images of racist erasures that, when evidenced through sociological methodology, point to Brazilian "racism by denial" (Gonzalez, 2020), present in national institutions, including journalism.
Resumo A opressão racial e sexual das mulheres negras brasileiras é, como defende Lélia Gonzalez (2020), uma das heranças coloniais mais perceptíveis e mais denegadas no contexto do país. Um dos mitos responsáveis pelo apagamento da história da escravização no Brasil instituiu como história oficial que esta nação seria um paraíso racial. Contudo, ao recorrermos aos registros de feminicídio, violência íntima e abusos sexuais, verifica-se uma repetição das mulheres negras como as mais vitimizadas. Diante da impossível reparação dos danos causados pelo passado de escravização que violentou as mulheres negras das mais variadas formas, cabe, no presente, eliminar todas as condições estruturais que as mantêm como alvo preferencial de violências e desumanização. Neste artigo recorremos ao que Silvia Rivera Cusicanqui (2015) descreve como “taypi”, um “mundo-do-meio” e um espaço intermediário onde é possível observar o contato entre formas opostas sem que os limites entre elas desapareçam. Essas zonas de contato, entretanto, podem ser permeadas por violência quando os opostos colocados em contato foram hierarquizados pelo contexto colonial, como Negres, Indígenas e Branques foram racializades, no Brasil. Inspirados nos deslocamentos de tempos e espaços que se reinformam, a proposta dos taypis de imaginários racistas coloca em contato imagens de apagamentos racistas que, ao serem evidenciados por meio da metodologia sociológica, apontam para o “racismo por denegação” (Gonzalez, 2020) brasileiro, presente em instituições nacionais, incluindo nos jornalismos.