Resumo: Partindo-se da convicção de que o conjunto da obra de Wittgenstein - que tem como marco decolonial emblemático de partida a crítica terapêutico-gramatical que ele dirige à obra monumental do antropólogo escocês James George Frazer, intitulada O ramo de ouro - pode ser visto, não propriamente como uma filosofia ou uma nova filosofia, mas como um filosofar (auto)terapêutico acerca de um conjunto de problemas que a tradição escolar denominou ‘filosóficos’ - dentre eles, o problema básico da linguagem que, para ele, não constitui um problema entre outros, mas a condição para o filosofar e, por extensão, para a desconstrução filosófica ou verbalista dos demais problemas -, o propósito deste artigo é caracterizar e descrever terapeuticamente o que vemos como o aspecto decolonial desse filosofar. Para isso, levaremos ao divã, constitutindo-o como uma doença passível de ser tratada por uma atitude terapêutico-gramatical, o próprio problema da colonialidade que vem orientando a educação escolar global desde a constituição dos sistemas nacionais de escolarização, a partir do século XIX. Sob esta perspectiva, temos assumido e praticado a crença de que uma escrita (auto)terapêutica deve ser também uma escrita (auto)decolonial. Assim, optamos por escrever este artigo segundo um gênero dialógico polifônico, que é também uma das características do modo terapêutico de LW filosofar. Especificamos as autorias das vozes que participam do diálogo pelas iniciais do nome e sobrenome de seus autores, de modo que Ludwig Wittgenstein aparecerá como LW. Já as nossas vozes serão referenciadas por HW e WH, o que, intencionalmente, não as distinguem.
Abstract: Founded on the conviction that Wittgenstein’s oeuvre - which has as initial emblematic decolonial landmark the therapeutic-grammatical criticism that he addresses to the monumental work of Scottish anthropologist James George Frazer, entitled The golden bough - can be seen not exactly as a philosophy or a new philosophy, but as a (self) therapeutic philosophizing about a set of problems that the scholar tradition called ‘philosophical’ - among which, the basic problem of language that, to him, does not constitute a problem among others, but the condition for philosophizing and, by extension, for the philosophical or verbalist deconstruction of the other problems -, the purpose of this article is to characterize and describe therapeutically what we see as the decolonial aspect of this philosophizing. To this end, we will take to the divan, constituting it as a disease that can be treated by a therapeutic-grammatical attitude, the very problem of coloniality that has been guiding global school education since the constitution of national schooling systems, since the 19th century. From this perspective, we have assumed and practiced the belief that a (self) therapeutic writing must also be a (self) decolonial writing. Thus, we chose to write this article according to a polyphonic dialogic genre, which is also one of the characteristics of the therapeutic manner of philosophizing of LW. We specify the authorship of the voices participating in the dialogue by the initials of the first and last names of their authors, so Ludwig Wittgenstein will appear as LW. Our voices, in turn, will be referenced using HW and WH, which, intentionally, do not distinguish them.