RESUMOEsta investigação, fundamentada em conceitos de Bahktin e Volochinov, discute a relação entre leitura e escrita. A partir dos conceitos de dialogismo, exotopia, autoria, dentre outros, percebeu-se que leitura e escrita constituem uma ação social de dimensão ética. Para o Círculo, leitura e escrita são processos criativos e dialógicos, visto que leitor e autor entram em profundo diálogo em que posições, muitas vezes díspares, se confrontam. Ao ler um texto, o leitor o faz com seu repertório cultural, mediando a leitura por vieses: contexto, gênero, classe social, axiologia, etc., recriando-o a partir dos seus parâmetros. O texto, entretanto, resiste, visto que foi concebido por outrem, cujo horizonte axiológico, temporal e contextual é outro. Qual a possibilidade de convergência e/ou discordância entre autor e leitor? As respostas a essa problematização demonstraram que o processo leitura/escrita é constituído por uma perspectiva ética de base dialógica: a presença do outro ocorre como alteridade, levando à necessidade de se fazer escolhas, intervenções, opções que podem destruir, carnavalizar, exaltar e idealizar esse outro. A centralidade da linguagem na constituição do ser social mostrou a ética discursiva dialógica como categoria fundamental para a compreensão da leitura e da escrita.
ABSTRACTBased on concepts of the Bakhtin Circle, this investigation discusses the relationship between reading and writing. Based on the key concepts of dialogism, exotopy, authorship etc., it was perceived that reading and writing are kinds of social action with an ethical dimension. For the Circle, reading and writing are creative and dialogical processes, as the reader and the author enter into a deep dialogue in which positions, often in opposition, enter into confrontation. On reading a text, the reader does so based on his/her cultural repertoire, mediating the act of reading through different slants: context, gender, social group, axiology, and so forth. In this process, the reader re-creates the text based on his/her personal parameters. However, the text resists the reader, having been thought of by another person, whose axiological, temporal and contextual horizons may be different. Which is the possibility of convergence or disagreement between author and reader? The answers to this problematisation showed that the reading-writing process is made up of an ethical perspective with a dialogical base: the presence of the other occurs as alterity and, in the light of this presence, it leads to the necessity of making choices, interventions and of considering options which could destroy, carnivalise, praise, or idealize this other. The centrality of language in the establishment of the social being showed that the dialogical discourse ethics is a key concept for understanding reading and writing.