RESUMO Em meados dos anos 1950, a construção de um monumento em Curitiba colocou a elite local diante de um impasse: como ser moderno, no Brasil do pós-guerra, sem deixar de ser branco? Concebido como parte das comemorações de cem anos de criação do Paraná, o monumento do centenário deveria dominar a praça do Centro Cívico - um conjunto administrativo moderno projetado para simbolizar a súbita transformação do Paraná em um dos estados mais ricos da federação. Os 21 gigantes de pedra que formariam o monumento, entretanto, acabaram sendo reduzidos a apenas um, o Homem Nu, obra dos escultores Erbo Stenzel e Humberto Cozzo. Neste artigo, analiso os sentidos relacionados à adaptação, construção e repercussão do monumento do Homem Nu, incluindo os atritos entre agentes locais e profissionais de vanguarda (e outros nem tanto) que trabalhavam no Rio de Janeiro. Procuro mostrar os esforços de uma fração da elite empenhada em atualizar sua região periférica seguindo os ditames de um movimento moderno desenvolvido no centro da vida cultural nacional. Contra a resistência de uma fração reacionária da elite, os modernos do Paraná conseguiram assegurar projetos arquitetônicos significativos, para em seguida recuar quando descobriram que ser moderno e brasileiro, nos anos 50, significava tornar-se menos branco.
ABSTRACT In the mid-1950’s, the construction of a monument in Curitiba, Paraná, led the local elite to an impasse: how to be modern, in postwar Brazil, without giving up being white? Conceived as part of the centenary commemorations of the state of Paraná, the monument should dominate the Civic Center plaza - an administrative complex planned to symbolize the sudden transformation of Paraná into one of the richer states in the federation. However, the 21 stone giants that would comprise the monument ended up reduced to only one, the Naked Man, made by sculptors Erbo Stenzel and Humberto Cozzo. In this article, I analyze the meanings associated with the adaptation, construction and repercussion of the Naked Man, including the conflicts between local agents and modernist professionals that worked in the Brazilian capital, Rio de Janeiro. I trace the efforts of an elite group focused in updating their region according to the standards set by a modern movement developed in the centers of the nation’s cultural life. Facing resistance from a reactionary local elite group, the modern paranaenses were able to secure significant architectural projects, but only to retreat when they figured that being modern and Brazilian, in the postwar years, meant becoming less white.