Abstract The Europeans of the Middle Ages have always valued bread within their food system, especially as meat, another highly valued food, became scarcer. But by tradition, more than a thousand years old, in Europe and the Mediterranean, bread was the food par excellence, the only one that the faithful asked God for in their prayers because it was the one whose lack meant hunger. Grain was grown everywhere, but this didn't stop times of scarcity and famine, both in the countryside and in the cities. While the latter had other means of responding to these crises and these phenomena have been better studied there, we barely know how rural people reacted to such adversities. The response of the rural world to the cereal crisis of 1438-1440 is analyzed through a book containing the accounts of the monastery of Alcobaça for the years 1437-1440. This is clearer for the monastery, since the peasants' reactions are more difficult to discern, as they are filtered through the eyes of the landlord. In 1439, the reduction of two-thirds in the abbey's cereal revenues was countered by the cultivation of target maize, a spring cereal that could replace wheat and barley. But the crisis had other effects, such as spiraling grain prices, rising flour extraction rates and a decline in the quality of daily bread, or the resort to substitute foods. From monks to peasants, everyone felt the consequences of this crisis, albeit on very different scales and in very dissimilar ways.
Resumo Os europeus da Idade Média sempre valorizaram o pão dentro do seu sistema alimentar, sobretudo à medida que a carne, outro alimento altamente valorizado, se ia tornando mais escassa. Mas, por tradição mais que milenar, na Europa e no Mediterrâneo, o pão era o alimento por excelência, o único que os fiéis pediam a Deus nas suas orações por ser aquele cuja falta era sinónimo da fome. O cereal cultivava-se por toda a parte, sem que isso impedisse as épocas de escassez e de carestia, tanto no campo, como nas cidades. Se estas últimas tinham outros meios para responder a essas crises e estes fenómenos foram aí mais estudados, mal se conhece o modo como os homens dos campos reagiam a tais adversidades. A partir de um livro com a contabilidade do mosteiro de Alcobaça dos anos de 1437-1440, analisa-se a resposta do mundo rural à crise cerealífera de 1438-1440. Mais clara no que respeita ao mosteiro, já que as reacções dos camponeses são mais difíceis de sondar, por estarem filtradas pelo olhar do senhorio. Em 1439, a redução em dois terços das receitas de cereal da abadia foi compensada pelo cultivo do milho-alvo, um cereal de primavera que podia substituir o trigo e a cevada. Mas a crise teve outros efeitos, como a espiral dos preços do cereal, o aumento das taxas de extração de farinha e a diminuição da qualidade do pão de cada dia, ou o recurso a alimentos de substituição. Dos monges aos camponeses, todos sentiram as consequências desta crise, embora em escalas e em modos muito diferentes.