Resumen A partir de la declaración de "pandemia" en el año 2020 por la Organización Mundial de la Salud (OMS), se implantaron en diversos países unas políticas sanitarias que serían indispensables para evitar una catástrofe sin precedentes. Estas políticas fueron presentadas como producto de la ciencia, particularmente de las ciencias de la salud, y los gobernantes que las adoptaron siempre legitimaron esta decisión argumentando que simplemente estaban "siguiendo a la ciencia". En este artículo se recurre a un conjunto de importantes teóricos de las ciencias sociales para analizar la relación entre ciencia y política y los procesos mediante los cuales las políticas se legitiman apelando a la ciencia. Las reflexiones se apoyan principalmente en la obra de Michel Foucault, comenzando con un recorrido histórico por los vínculos entre la ciencia médica y el Estado en la modernidad. Esto permite demostrar hasta qué punto las políticas sanitarias en cuestión pueden ser consideradas como la expresión contemporánea de lo que Foucault llamó biopoder y dispositivos de seguridad. Por otro lado, este análisis toma elementos de la sociología de la ciencia, refiriéndose a autores como Bruno Latour, quien nos previene acerca del persistente mito de unas ciencias naturales "puras", asociales y ahistóricas, pureza gracias a la cual serían inmunes a toda crítica, especialmente por parte de las ciencias sociales. Existiría una suerte de "creencia" o "fe en la ciencia" que se analiza a la luz de lo producido por Emile Durkheim y Ulrich Beck. Este último permite además notar la creciente influencia política de las ciencias de la salud, las cuales pueden incluso llegar a subordinar el sistema jurídico. Se concluye que las políticas sanitarias constituyen una forma de biopoder globalizado, ya que se aplican a lo largo y ancho del planeta y las definen instancias de poder supranacionales. Así, organismos como la OMS centralizan la información relevante y se presentan como el lugar del saber/poder de donde emanan las proyecciones y los preceptos que todo el mundo debería seguir, por lo que influyen en la vida de miles de millones de personas. Descriptores: ciencia y sociedad, cultura dominante, política de la salud, sociología del conocimiento.
Abstract Following the declaration of a pandemic in 2020 by the World Health Organization (WHO), some health policies were implemented in various countries that would be essen-tial to avoid an unprecedented catastrophe. These policies were presented as the product of science, particularly the health sciences, and the rulers who adopted them always legiti-mized this decision by arguing that they were simply "following the science". This article draws on a range of leading social science theorists to analyze the relationship between science and politics, and the processes by which policies are legitimized appealing to science. The reflections are mainly based on the work of Michel Foucault, beginning with a historical overview of the links between medical science and the State in modernity. This allows us to demonstrate to what extent those health policies can be considered as the contemporary expression of what Foucault called biopower and security devices. On the other hand, this analysis takes elements from the sociology of science, referring to authors as Bruno Latour, who warns us about the persistent myth of "pure", asocial and ahistori-cal natural sciences, a purity that would render them immune to any criticism, especially from the social sciences. There would be a kind of "belief" or "faith in science" that is analyzed in the light of what was produced by Emile Durkheim and Ulrich Beck. The latter also makes it possible to note the growing political influence of the health sciences, that can even subordinate the legal system. It is concluded that health policies constitute a form of globalized biopower, since they are applied throughout the planet and are de-fined from supranational power organizations. Thus, organizations as the WHO centralize the relevant information and present themselves as the place of knowledge/power that produce the projections and precepts that everyone should follow, influencing the lives of billions of people. Descriptors: dominant culture, health policy, science and society, sociology of knowledge.
Resumo A partir da declaração de pandemia em 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram implementadas em vários países políticas de saúde que seriam essenciais para evitar uma catástrofe sem precedentes. Essas políticas foram apresentadas como produto da ciência, principalmente das ciências da saúde, e os governantes que as adotaram sempre legitimaram essa decisão argumentando que estavam simplesmente "seguindo a ciência". Este artigo se baseia em um conjunto de importantes teóricos das ciências sociais para analisar a relação entre ciência e política e os processos pelos quais as políticas são legitimadas pelo apelo à ciência. As reflexões se baseiam principalmente na obra de Michel Foucault, a partir de um panorama histórico dos vínculos entre a ciência médica e o Estado na modernidade. Isso permite demonstrar em que medida as políticas de saúde em questão podem ser consideradas a expressão contemporânea do que Foucault chamou de "biopoder" e "dispositivos de segurança". Por outro lado, esta análise toma elementos da sociologia da ciência, referindo-se a autores como Bruno Latour, que nos alerta para o persistente mito das ciências naturais "puras", antisociais e a-históricas, pureza graças à qual seriam imunes a todas as críticas, especialmente das ciências sociais. Haveria uma espécie de "crença" ou "fé na ciência" que é analisada à luz do que foi produzido por Emile Durkheim, primeiro, e depois por Ulrich Beck. Este último também permite constatar a crescente influência política das ciências da saúde, podendo inclusive subordinar o ordenamento jurídico. Conclui-se que as políticas de saúde constituem uma forma de biopoder globalizado, pois são aplicadas em todo o planeta e são definidas a partir de instâncias de poder supranacionais. Assim, organizações como a OMS centralizam informações relevantes e se apresentam como o lugar de saber/poder de onde emanam projeções e preceitos que todos deveriam seguir, influenciando a vida de bilhões de pessoas. Descritores: ciência e sociedade, cultura dominante, política de saúde, sociologia do conhecimento.