Resumo O sistema penitenciário funciona como um ponto de reflexão de várias questões históricas inerentes à formação da sociedade brasileira. Uma dessas questões se refere aos modos patriarcais que foram estabelecidas as relações de gênero no país. Nesse sentido, a partir da relevância desta realidade, há a necessidade de a Psicologia investigar o sistema prisional feminino sob a luz da produção teórica acerca das relações de gênero. Este estudo objetiva analisar comparativamente os Levantamentos Nacionais de Informações Penitenciárias Mulheres (Infopen Mulheres) de 2014 e 2018 com a finalidade de mapear e problematizar questões e desafios pertinentes à pesquisa psicológica. Para tal, utilizam-se como métodos a análise documental, como recurso válido para a investigação com dispositivos públicos, e o ensaio teórico, como uma prática de análise que busca desvelar novos saberes sobre uma dada realidade. Pontua-se que há um contexto no sistema prisional feminino marcado pelo agravamento dos problemas crônicos comuns ao masculino, em decorrência da invisibilidade das especificidades femininas. Destaca que o perfil das mulheres apenadas se constrói como uma questão interseccional, pois a grande maioria é constituída por negras, pobres, mães solteiras, que entraram no crime através de funções subalternas no tráfico. Problematiza-se que os atenuantes da vida prisional, como o desenvolvimento educacional e as atividades laborais, são subaproveitados, articulando esse problema a repercussões na dimensão psicológica das apenadas. Por fim, aponta-se que os Infopen revelam vários desafios para a pesquisa em psicologia, suscitando que a comunidade científica possa desenvolver novas pesquisas nesse campo de atuação e investigação.
Abstract The penitentiary system works as a reflection on several historical issues inherent in the formation of Brazilian society. One of these questions refers to the patriarchal ways in which gender relations have been established in the country. In this sense, based on the relevance of this reality, psychology needs to investigate the female prison system in the light of the theoretical production about gender relations. This study aims to comparatively analyze the National Survey of Women Penitentiary Information (Infopen Women) of 2014 and 2018 with the purpose of mapping and problematizing issues and challenges relevant to psychological research. For this purpose, the documentary analysis is used as a valid resource for researching public devices, and the theoretical essay, as a practice of analysis that seeks to unveil new knowledge about a given reality. It is pointed out that there is a context in the female prison system marked by the aggravation of the chronic problems common to the male, due to the invisibility of the feminine specificities. It is noted that the profile of incarcerated women is seen as an intersectional issue, since the vast majority are black, poor, single mothers, who entered the crime through subaltern functions in trafficking. It is problematic that attenuators of prison life, such as educational development and work activities, are underused, articulating this problem with repercussions on the psychological dimension of the victims. Lastly, it is pointed out that the Infopen reveal several challenges for the research in psychology, provoking that the scientific community can develop new researches in this field of investigation and practice.
Resumen El sistema penitenciario funciona como un punto de reflexión de varias cuestiones históricas inherentes a la formación de la sociedad brasileña. Una de esas cuestiones se refiere a los modos patriarcales en que se establecieron las relaciones de género en el país. En ese sentido, a partir de la relevancia de esta realidad, existe la necesidad de que la psicología investigue el sistema penitenciario femenino bajo la luz de la producción teórica acerca de las relaciones de género. Este estudio objetiva analizar comparativamente los Levantamientos Nacionales de Informaciones Penitenciarias Mujeres (Infopen Mujeres) de 2014 y 2018 con la finalidad de mapear y problematizar cuestiones y desafíos pertinentes a la investigación psicológica. Para ello, se utilizan como métodos el análisis documental, como recurso válido para la investigación con dispositivos públicos, y el ensayo teórico, como una práctica de análisis que busca desvelar nuevos saberes sobre una determinada realidad. Se señala que hay un contexto en el sistema penitenciario femenino marcado por el agravamiento de los problemas crónicos comunes al masculino, como consecuencia de la invisibilidad de las especificidades femeninas. Destaca que el perfil de las mujeres apenadas se construye como una cuestión interseccional, pues la gran mayoría está constituida por negras, pobres, madres solteras, que entraron en el crimen a través de funciones subalternas en el tráfico. Se plantea que los atenuantes de la vida prisional, como el desarrollo educativo y las actividades laborales, son subaprovechados, articulando ese problema a repercusiones en la dimensión psicológica de las apenadas. Por último, se señala que los Infopen revelan varios desafíos para la investigación en psicología, suscitando que la comunidad científica pueda desarrollar nuevas investigaciones en ese campo de actuación e investigación.