Resumo Introdução: A consulta aberta é uma consulta com marcação no próprio dia para resolver situações de doença aguda. A sua desadequada utilização é um problema recorrente que gera incapacidade de resposta adequada aos utentes. Durante a pandemia por COVID-19 foi necessário reformular a atividade assistencial nos cuidados de saúde primários, limitando o contacto presencial com os utentes. Objetivos: Conhecer o impacto da COVID-19 na utilização da consulta aberta, bem como fazer a caracterização sociodemográfica dos utentes utilizadores e compreender os motivos de utilização mais frequentes. Métodos: Estudo observacional descritivo com componente analítica da consulta aberta em abril/19, abril/20 e abril/21, numa unidade de saúde familiar, com caracterização sociodemográfica dos utentes e avaliação dos motivos de consulta e sua adequação. Resultados: Realizaram-se uma média diária de 18 consultas em 2019, 19 em 2020 e 31 em 2021. Não se observaram diferenças sociodemográficas dos utentes entre os períodos analisados, havendo sempre predomínio do sexo feminino e idade média entre 45 e 52 anos. Em pré-pandemia prevaleciam os motivos gerais e músculo-esqueléticos. Em 2020 aumentou o peso relativo das queixas respiratórias e, em 2021, foi restabelecido o padrão pré-pandemia. O ano relacionou-se com a adequabilidade do motivo (p<0,001), com valores de inadequabilidade de 47% em 2019, 19% em 2020 e 31% em 2021. Os motivos inadequados mais frequentes foram os mesmos - queixas não agudas, visualização de exames e renovação/pedido de certificado de incapacidade para o trabalho -, mas com pesos relativos diferentes (p<0,001). Conclusões: A pandemia COVID-19 associou-se a um aumento da adequação dos motivos de utilização da consulta aberta, o que mostra que não só é fundamental uma adequada educação dos doentes quanto aos motivos corretos para recurso à consulta aberta, mas também assegurar uma adequada acessibilidade às restantes modalidades de consulta para não motivar o recurso indevido à consulta aberta.
Abstract Introduction: The walk-in appointment is an appointment scheduled on the same day, to solve situations of acute illness. Its’ inappropriate use is a recurrent problem that causes a failure to respond adequately to users. During the COVID-19 pandemic, there was a reformulation of activity in primary health care as it was necessary to limit face-to-face contact with patients. Objectives: Identifying the impact of COVID-19 on the walk-in appointment demand, as well as making a sociodemographic characterization of the users and a descriptive analysis of the most frequent motives for consultation. Methods: Descriptive observational study with an analytical component of the walk-in appointment on April/19, April/20, and April/21, in a family health unit, with sociodemographic characterization and identification of the motives for an appointment and their adequacy. Results: An average of 18 daily appointments were conducted in 2019, 19 in 2020, and 31 in 2021. There were no differences in the users’ sociodemographic characteristics between the analyzed periods, with a transversal predominance of females and a mean age between 45 and 52 years. Before the pandemic, general and musculoskeletal reasons prevailed. In 2020, the relative weight of respiratory complaints increased and in 2021 the pre-pandemic pattern was restored. The year was related to the adequacy of the reason (p<0.001), with inadequacy values of 47% in 2019, 19% in 2020, and 31% in 2021. The most frequent inadequate motives were the same - non-acute clinical complaints, delivery of exam results, and renewal/request of sick leaves - but with different relative weights (p<0.001). Conclusion: COVID-19 pandemic was associated with higher adequacy of motives for walk-in appointments, highlighting the importance of adequate patient education about the correct reasons for using the walk-in appointment, as well as to ensure adequate access to other appointment modalities, so as not to motivate the improper use of the walk-in appointment.