A relação entre pressão arterial e discriminação tem sido investigada recentemente, havendo intensos debates na literatura sobre o tema. Este trabalho objetivou atualizar as revisões de literatura sobre discriminação e pressão arterial ou hipertensão. Foi conduzida pesquisa no PubMed, entre janeiro/2000 e dezembro/2010, incluindo estudos epidemiológicos, que avaliaram a discriminação interpessoal e sua relação com pressão arterial/hipertensão. Os 22 estudos identificados originaram-se dos Estados Unidos; 96% deles empregaram o delineamento transversal, com amostras de conveniência e compostas, em 59% dos casos, exclusivamente por negros. Os instrumentos mais utilizados para aferir discriminação foram Everyday Discrimination Scale e Perceived Racism Scale, enfatizando a discriminação étnico-racial, ocorrida ao longo da vida ou cotidianamente. Nos 22 estudos avaliados, a relação entre discriminação e os desfechos foi analisada 50 vezes. Em 20 (40%) resultados, não foi encontrada qualquer associação e, em apenas 15 (30%), observaram-se associações positivas globais, sendo 67% destas estatisticamente significativas. Foram também observadas oito associações inversas, sugerindo que maior exposição à discriminação estaria associada com menor pressão arterial/hipertensão. Os estudos não permitiram apoiar consistentemente a hipótese de que a discriminação está associada à maior pressão arterial. Isto pode ser atribuído, em parte, às limitações dos estudos, relacionadas à mensuração da discriminação e de eventos que podem modificar sua associação com os desfechos. Para consolidar a discriminação como um fator de risco epidemiológico, é necessário utilizar estratégias metodológicas mais rigorosas e revisar os marcos teóricos que propõem relações de causa e efeito entre discriminação e pressão arterial.
The relationship between blood pressure and discrimination has been recently investigated, and there are conflicting debates in literature devoted to the topic. The objective of this study was to update previous literature reviews on discrimination and blood pressure. A bibliographic search was conducted in PubMed between January/2000 and December/2010, including epidemiological studies, assessing the relationship between interpersonal discrimination and blood pressure/hypertension. The 22 studies included originated from the United States; 96% of them used the cross-sectional design with convenience sample, comprising, in 59% of the studies, exclusively Black participants. The Everyday Discrimination Scale and the Perceived Racism Scale were the most frequently used instruments, emphasizing lifetime or chronic/everyday racial/ethnic discrimination. In the 22 studies assessed, the association between discrimination and blood pressure/hypertension was assessed 50 times. Twenty results (40%) showed no association between them, and only 15 (30%) revealed global positive associations, of which 67% were statistically significant. Eight negative associations were also observed, suggesting that higher exposure to discrimination would be associated with lower blood pressure/hypertension. The studies did not consistently support the hypothesis that discrimination is associated with higher blood pressure. These findings can be partially attributed to the limitations of the studies, especially those related to the measurement of discrimination and of factors that might modify its association with outcomes. To establish discrimination as an epidemiological risk factor, more rigorous methodological strategies should be used, and the theoretical frameworks that postulate causal relationships between discrimination and blood pressure should be reviewed.