Na literatura brasileira contemporânea, evidencia-se uma evolução da narrativa centrada no indivíduo para uma abordagem coletiva. Esta transição, no entanto, frequentemente se restringe a grupos específicos, criando barreiras na comunicação entre diferentes identidades. Recentemente, algumas obras de ficção no Brasil têm transcendido essa limitação, sendo Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, um exemplo notável. Este artigo investiga, por meio das teorias da “multidão”, de Hardt e Negri, e de análises linguísticas dos pronomes da primeira pessoa do plural, como Torto Arado consegue, ao focar em personagens femininas de um quilombo, abraçar uma inclusividade que potencialmente une diversos gêneros, raças, classes e regiões. Argumenta-se que a transição da “escrita de nós” para a “escrita da gente” simboliza um novo paradigma na narrativa coletiva, permitindo a inclusão de uma gama mais ampla de vozes e experiências.
In contemporary Brazilian literature, there is a noticeable evolution from narratives centered on the individual to a collective approach. However, this transition often restricts itself to specific groups, creating barriers to communication among different identities. Recently, some works of fiction in Brazil have transcended this limitation, with Torto Arado (Crooked Plow) by Itamar Vieira Junior being a notable example. This article investigates, using Hardt and Negri’s theories of the “multitude” and linguistic analyses of first-person plural pronouns, how Torto Arado manages to embrace inclusivity by focusing on female characters from a quilombo, potentially uniting various genders, races, classes, and regions. It is argued that the transition from “escrita de nós” (exclusive we-narrative) to “escrita da gente” (inclusive we-narrative) symbolizes a new paradigm in collective narrative, allowing for the inclusion of a broader range of voices and experiences.