Resumo: Introdução: Dados da literatura apontam para um aumento da frequência de sofrimento mental entre estudantes de Medicina. Entretanto, os fatores responsáveis ou que têm contribuído para isso ainda não estão completamente esclarecidos. Conhecê-los é fundamental para o planejamento de um serviço de apoio que acolha, identifique, acompanhe e, se necessário, encaminhe o estudante com sofrimento mental. Método: Avaliamos, neste trabalho, o relato de tratamento psíquico, anterior ao ingresso na universidade, de estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais que buscaram atendimento no Núcleo de Apoio Psicopedagógico aos Estudantes da Faculdade de Medicina (Napem). Os relatos, os dados sociodemográficos e os motivos que levaram o aluno a procurar o serviço foram obtidos de uma ficha de inscrição preenchida pelo estudante. Resultados: No ano avaliado, 87 estudantes (47 homens, média de idade 23,3 anos) procuraram os serviços do Napem. Desses alunos, 42 (48,3%) cursavam os dois primeiros anos; 24 (27,6%), o terceiro e quarto anos; e 21 (24,1%), o quinto e sexto anos. Tratamento psíquico antes do ingresso na universidade foi relatado por 53 (60,9%) alunos: 37 (42,5%) declararam ter feito uso de medicamentos psicoativos e 16 relataram tratamento com psicoterapia sem medicação. Os relatos de tratamento psíquico e de uso de medicamentos psicoativos antes do ingresso na universidade foram significativamente mais frequentes (p = 0,04 e p = 0,04, respectivamente) entre os estudantes que cursavam os dois primeiros anos do curso do que entre os dos demais anos. Não se observaram diferenças estatisticamente significativas em relação à média de idade (p = 0,06), à distribuição por sexo (p = 0,87), à procedência (p = 0,68) ou ao tipo de moradia em Belo Horizonte (p = 0,96) quando se compararam os grupos com e sem relato de tratamento psíquico. Dentre os motivos apontados para a busca de atendimento no Napem, “ansiedade”, “depressão/sintomas depressivos” e “instabilidade de humor” foram relatados por 59 (67,8%) estudantes. Problemas relacionados ao curso foram declarados por cinco (5,7%) alunos. Conclusão: Os resultados do estudo sugerem que o tratamento psíquico prévio ao ingresso na universidade pode ser um dos fatores que contribuem para o sofrimento mental do estudante de Medicina durante o curso.
Abstract: Introduction: Data published in literature point to an increased frequency of psychological distress among medical students. However, the causes or potentially contributory factors for this scenario are not completely understood. Understanding these factors is essential for planning a support service that welcomes, identifies, monitors and, if necessary, guides the student with mental suffering. Methods: We evaluated the pre-university admission mental health treatment report on medical students at the Federal University of Minas Gerais who sought care at the Psychopedagogical Support Center. These data, as well as demographic data and the reasons that led the student to seek the service were obtained from an enrollment form filled out by the student. Results: A total of 87 students (47 males, mean age 23.3 years) were received support from the NAPEM in the year under study. Of those, 42 (48.3%) were in the first two years of the course, 24 (27.6%) in the 3rd/4th year and 21 (24.1%) in the 5th/6th year. Mental Health treatment prior to university admission was reported by 53 (60.9%) students: 37 (42.5%) reported the use of psychoactive drugs and 16 reported psychotherapies without the use of medication. Mental Health treatment and medication prior to university admission were significantly more frequent (p = 0.04 and p = 0,04, respectively) among students in the first two years of the course than among those in other years. No statistically significant differences in relation to the average age (p = 0.06), distribution by sex (p = 0.87), origin (p = 0.68) or type of housing in Belo Horizonte (p = 0.96) were found when comparing those who had undergone psychic treatment with those who had not. Anxiety, depression/depressive symptoms and mood swings were reported by 59 (67.8%) students as reasons to seek help. Problems related to the course were reported by five (5.7%) students. Conclusion: The results of the present study suggest that Mental Health treatment prior to university admission may be one of the factors that contribute to the medical student’s mental suffering during the course.