Resumo As vilas mineradoras de Arroio dos Ratos e Butiá, no Rio Grande do Sul, eram, na primeira metade do século XX, uma das maiores concentrações de trabalhadores do sul do Brasil. Com cerca de 7 mil operários concentrados, a região foi líder na produção brasileira de carvão mineral até o fim da II Guerra Mundial. Ao final do conflito, mesmo com a queda da demanda pelo produto, houve um grande incentivo à imigração de refugiados europeus, em especial russos, poloneses, alemães, ucranianos e outros. Tal contexto gerou um aumento na concentração de nacionalidades e etnias nas vilas, bem com um incremento nos mecanismos de controle da mão de obra, incluindo a classificação dos trabalhadores em “bons”, “regulares” e “maus” pelas grandes empresas mineradoras. A partir da documentação empresarial até então inédita, este estudo analisa o processo de “importação” dos trabalhadores via instrumentos diplomáticos e governamentais e as estratégias de comando patronais, bem como experiências de resistência e de adaptação dos operários ao cotidiano extremamente insalubre das minas de carvão.
Abstract The mining villages of Arroio dos Ratos and Butiá, in Rio Grande do Sul, were, in the first half of the 20th century, two of the largest concentrations of workers in the south of Brazil. With a concentration of around 7,000 workers, the region was a leader in Brazilian coal production until the end of World War II. At the end of the conflict, even with the decrease of the product’s demand, there was great incentive to the immigration of European refugees, especially Russians, Poles, Germans, Ukrainians and others. Such context increased the concentration of nationalities and ethnicities in the villages, as well in the mechanisms for controlling the workforce, including the classification of workers as “good”, “regular” and “bad” by large mining companies. Based on previously unpublished business documentation, this study analyzes the process of “importing” workers via diplomatic and government instruments and employers’ command strategies, as well as experiences of resistance and adaptation of workers to the extremely unhealthy environment of coal mines.