Resumo A partir dos anos 1980, a prefeitura de São Paulo empreendeu um projeto de urbanização para o Parque Dom Pedro II que teve continuidade ao longo de várias administrações. Nesse contexto, propuseram-se, diversas vezes, intervenções no Edifício São Vito, vizinho ao parque. Esse grande edifício de quitinetes, construído na década de 1950, sendo local de moradia de uma população de baixo poder aquisitivo, foi demolido em 2010. O imóvel ficou conhecido como uma ocupação irregular e perigosa, embora fosse habitado predominantemente por proprietários e inquilinos formais. A construção desse estigma, com a participação decisiva da imprensa, foi fundamental para justificar as duas tentativas de intervenção pública no prédio, ocorridas, respectivamente, nas décadas de 1980 e 2000. O caso relativamente recente, ainda que um tanto esquecido, leva à percepção de que ideias reproduzidas como “senso comum” são, na realidade, cuidadosamente elaboradas e incorrem na naturalização de noções que nada têm de consensuais.
Abstract Since the 1980s, various administrations at the São Paulo City Hall have contributed to an urban project for Parque Dom Pedro II, inside which, on several occasions, the São Vito building has become a public issue. This giant building of small apartments was built in the 1950s. It became established as a place of residence for a low-income population, but was demolished in 2010. The building was generally perceived as an irregular, dangerous occupation, whereas it was in fact inhabited mainly by owners and formal tenants. The social construction of this stigma, contributed to by the local press, was fundamental in justifying two public intervention attempts on the building, during the 1980s and 2000s. This relatively recent case, although already somewhat forgotten, demonstrates that notions often reproduced as “common sense” are in reality carefully elaborated, incurring on the naturalization of ideas that are not consensual.