A medicalização social transforma experiências e características pessoais em objetos de trabalho dos profissionais de saúde, gerando dependência progressiva de saberes/práticas profissionalizados. Apresenta-se um ensaio propondo uma aproximação do tema da medicalização social com o campo da odontologia, com ênfase nas práticas profissionais, contextualizado na contemporaneidade brasileira, no mercado privado e no Sistema Único de Saúde. Apontam-se pontos importantes para a formação e a pesquisa, dado ser este um tema de alta relevância e grande atravessamento com os saberes e práticas profissionais. Tópicos como: mercantilização das práticas, expansão das especialidades odontológicas e estéticas em odontologia, pouca exploração do campo de cuidado (e do potencial dos profissionais auxiliares), "motores" do processo (reducionismo biológico, poder da mídia e da propaganda, manipulação da legitimidade científica, abusos preventistas e de sobretratamento), incipiente exploração das terapias complementares, dentre outros, são sinteticamente abordados, oferecendo uma aproximação crítica geral e algumas possibilidades de análise e desenvolvimento investigativo, conceitual e empírico do tema.
Abstract Social medicalization transforms personal traits and experiences into work objects for health professionals, generating a progressive dependence on professional knowledge and practice. The present essay aims to discuss this topic in the field of dentistry and oral health, with emphasis on the present professional practice in Brazil, both in the private and in the Brazilian National Health System (SUS). We point out problems that are crucial to education and research, since this is a topic of great relevance and reach in professional practice and debate. Issues such as commercialization of practices, growing of dentistry specialties and of aesthetic dentistry, scarce research on care (and on the potential of technicians); "engines" of this process (biological reductionism, the power of media and marketing, manipulation of scientific legitimacy, abuse of prevention practices and overtreatment); and incipient exploration of supplemental treatment, are discussed. This exposition offers a brief general analytical approach, and some analysis and investigative development possibilities of the subject, both conceptual and empirical.