Recentemente é possível encontrar esforços no sentido de aproximar duas abordagens até então tomadas como antagônicas e inconciliáveis. Trata-se de uma tentativa de intermediar visões que, de um lado, enfatizam a importância das escolhas estratégicas dos indivíduos, e de outro as que privilegiam a importância histórica de normas e instituições sócio-culturais nos resultados sociais e políticos. Esse artigo procura se inserir nesse debate e, nesse contexto, a pergunta a cultura importa? faz todo o sentido. Partindo dessa questão procuramos analisar empiricamente a relevância estatística de um valor cultural específico, o capital social, para a qualidade da democracia. O esforço realizado consiste em esclarecer empiricamente se o capital social (aqui entendido a partir dos indicadores de confiança interpessoal, confiança nas instituições e confiança política) está relacionado com a qualidade da democracia (aqui mensurada a partir de dois indicadores - Freedom Housee The Economic Inteligence Unit). Como conclusão o artigo sugere que se levarmos em consideração exclusivamente o conceito de confiança interpessoal como medida para o capital social, não podemos definitivamente considerar que o capital social é um valor cultural relevante para democracia. No que diz respeito à confiança nas instituições, a sua correlação negativa com o grau de democratização dos países estudados mostra claramente que o circulo virtuoso sugerido por Putnam não se confirma. A erosão da confiança nos governos em regimes democráticos é uma forte evidência de que não há associação positiva, virtuosa, entre confiança, cultura cívica, ou qualquer outra denominação que se sugira dar na tentativa de construir um mecanismo causal entre capital social e democracia. Não obstante os resultados negativos e os limites apontados em relação ao alcance da teoria do capital social, o texto aponta para um debate em construção e com perspectivas promissoras
In recent times, efforts have been made to bring two approaches previously considered to be antagonic and impossible to reconcile closer. This refers to an attempt to intermediate views that, on the one hand, emphasize the importance of individuals' strategic choices and, on the other, prioritize the historical importance of socio-historical norms and institutions in political and social results. The present article takes part in this debate and within this context, the question "Does culture matter?" comes to the forefront. Taking this question as our point of departure, we seek an empirical analysis of the statistical relevance of a specific cultural value, "social capital", and its significance for the quality of democracy. The efforts we carry out consist in attempt to empirically clarifying whether social capital (understood here through indicators of interpersonal trust, trust in institutions and political trust) is related to the quality of democracy (measured here through two indicators: Freedom House and The Economic Inteligence Unit). We conclude that, if relying exclusively on the concept of interpersonal trust as a measure of social capital, we will not be able to consider the latter as a cultural value that is relevant for democracy. With regard to trust in institutions, this factor's negative correlation to degrees of democratization in the countries studied demonstrates quite clearly that the circle of virtue suggested by Robert Putnam cannot be confirmed. Erosion of trust in governments, within democratic regimes, is strong evidence that there is no positive, virtuous association between confidence, civic culture or any other denomination that has been suggested in the attempt to build causal links between social capital and democracy. Yet notwithstanding negative results and the limitations that we have pointed to in relation to the scope of the theory of social capital, our text is revealing of a debate that is currently under construction and seems to hold promise
Actuellement, il est possible de trouver des efforts visant à réconcilier deux approches avant prises comme antagonistes et inconciliables. Il s'agit d'une tentative de faire la médiation des visions que d'un côté, soulignent l'importance des choix stratégiques des individus et, d'un autre côté, qui privilégient l'importance historique des normes et des institutions socioculturelles dans les résultats sociaux et politiques. Cet article s'insère dans ce débat et, dans ce contexte, la question "la culture est-elle importante?" est tout à fait logique. En partant de cette question, nous cherchons à analyser empiriquement l'importance statistique d'une valeur culturelle spécifique, "le capital social", pour la qualité de la démocratie. L'effort est de clarifier empiriquement si le capital social (ici compris à partir des indicateurs de confiance interpersonnelle, confiance dans les institutions et confiance politique), est lié à la qualité de la démocratie (ici mesurée à partir de deux indicateurs : Freddom House et The Economic Inteligence Unit). Nous concluons que, si nous prenons en considération seulement le concept de confiance interpersonnelle comme mesure pour le capital social, nous ne pouvons pas considérer que celui-ci est une valeur culturelle pertinente pour la démocratie. Par rapport à la confiance dans les institutions, sa corrélation négative avec le degré de démocratisation des pays étudiés, montre clairement que le cercle vicieux suggéré par Robert Putnam n'est pas confirmé. L'érosion de la confiance dans les gouvernements, dans les régimes démocratiques, est une forte évidence que il n'y a pas d'association positive, vertueuse, entre confiance, culture civique ou n'importe quelle autre dénomination que puisse être suggérée dans une tentative de construire un mécanisme de cause entre capital social et démocratie. Malgré les résultats négatifs et les limites indiqués en ce qui concerne le pouvoir de la théorie du capital social, le texte indique un débat en construction et avec des perspectives prometteuses