Resumo A redução da jornada de trabalho é um tema amplamente abordado em estudos organizacionais, em especial quanto aos seus benefícios. Contudo, a literatura dá menor ênfase às dinâmicas de poder e controle que podem estar presentes em sua implementação pelas organizações. Este artigo procura avançar sobre essa lacuna ao explorar as diferentes concepções que a jornada reduzida assumiu no contexto de uma instituição federal de ensino brasileira que adotou jornada de trinta horas semanais para seus servidores técnico-administrativos. Para isso, foi efetivado um estudo de caso por meio de observação, análise documental e dezoito entrevistas semiestruturadas, que incluíram tanto trabalhadores que cumpriam jornada reduzida quanto gestores que atuavam em jornada convencional de quarenta horas semanais. Os resultados indicaram que, apesar dos seus benefícios – notadamente no equilíbrio entre a vida laboral e pessoal –, a jornada reduzida apresenta três finalidades inter-relacionadas: a de um instrumento político, de gestão, e de controle sobre os trabalhadores. Partindo de reflexões sobre a racionalização da vida e de sua dimensão temporal, a pesquisa possibilitou, como contribuição aos estudos organizacionais, desvelar como instrumentos de gestão e controle podem ser incorporados em uma política de redução de jornada de trabalho, evidenciando a complexidade e a controvérsia presentes nas relações de poder.
Abstract Reduced working time is a topic widely discussed in organization studies, mainly its benefits. However, the literature does not deeply emphasize the power and control dynamics oftentimes observed in its implementation by organizations. The aim of the current article is to help fulfilling this gap by exploring different concepts about reduced working time in place in Brazilian federal educational institutions that have adopted the thirty-hour workweek as standard for their technical-administrative employees. A case study was carried out through observation, documental analysis and eighteen semi-structured interviews conducted with both workers subjected to shorter working hours and managers working under the conventional forty-hour week standard. Based on the results, despite its notable benefits for the work/life balance, the reduced working time has three interrelated purposes, namely: political, management, and control instrument. This research made it possible to reveal how management and control instruments can be incorporated to a policy focused on reduced working time, to highlight the complexity and controversy of power relation, as well as contributed to organization studies, based on rationalization about life and its temporal dimensions.