Resumo: Como as pessoas se apresentam com sua história de vida no presente da narração ou da escrita e até que ponto sua apresentação é constituída por sua vivência no passado? Gostaria de aprofundar esse questionamento com o auxílio de uma concepção baseada na teoria da Gestalt e na fenomenologia a respeito da relação dialética entre vivenciar, lembrar e narrar. O presente, isto é, tanto a constelação atual da história de vida, os discursos sociais atuantes no presente, quanto a situação da interação atual, constitui o olhar retrospectivo sobre o passado, o processo recordativo, as memórias que se apresentam e a forma em que se expressam na comunicação. Ainda assim, a construção do passado que se realiza no presente se encontra numa relação de dependência do passado vivenciado; ela não é independente das vivências pregressas. Para dar conta da diferença fundamental entre a perspectiva atual do passado e as perspectivas do passado que mudaram constantemente em presentes anteriores, fazem-se necessários uma reflexão metodológica específica e um procedimento metodologicamente controlado. Isso é explicitado, focando-se numa possível reconstrução de vivências passadas que se aproxima do passado vivenciado, com base no exemplo de um caso. Com o procedimento metodológico aqui discutido rejeita-se resolutamente a suposição da existência de uma homologia entre vivência e narração (ver Rosenthal, 1995).
Abstract: How do people show themselves regarding their life history in the present of the narration or the writing, and to what extent is this presentation constituted by experiences in the past? I would like to further develop these questions based on the Gestalt theory and on phenomenology, regarding the dialectical relation among experiencing, remembering and narrating. The present, that is to say, both the current constellation of the life history, the social discourses operating in the present, and the current interaction situation, constitutes a retrospective look on the past, the recollection process, the way memories are presented and the way they are expressed in the communication process. Still, the construction of the past that takes place in the present is in a dependency relation with the experienced past; it is not independent from the past experiences. In order to understand the fundamental differences between the present and the past perspectives, a specific methodological reflection and a controlled methodological procedure are necessary. This is done by focusing on the reconstruction of past experiences which makes possible to approach the experienced past, based on a single case. The methodological procedure here discussed rejects the assumption of a homology between experience and narration (see Rosenthal, 1995).