Resumo O artigo pretende identificar quem são os “Médicos pela Vida” (MPV), suas informações acadêmicas e profissionais, quais as premissas utilizadas para a defesa do “tratamento precoce” e da negação das vacinas contra COVID-19 e qual a representatividade de seus discursos no contexto da prática médica no Brasil. A análise baseia-se na lista de 276 profissionais médicos catalogados no site dos MPV e em informações acadêmicas e profissionais coletadas nos sites do Conselho Federal de Medicina e da Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A análise do conteúdo aponta para a centralidade das especialidades da Homeopatia e Acupuntura na população de MPV quando comparada ao conjunto dos especialistas do Brasil. A adesão significativa de homeopatas e acupunturistas ao movimento dos MPV pode iluminar a compreensão sobre racionalidades médicas específicas, permitindo distinguir quais categorias e ideias acerca dos processos de saúde e doença estão em disputa. Conclui-se que, para além de descrever a problemática, é preciso estabelecer suas correlações com um conjunto de acontecimentos, práticas, decisões políticas, encadeamentos econômicos, compartilhamento de crenças e uma corrente de processos que configuram seu caráter inegavelmente social.
Abstract The article aims to identify who the “Doctors for Life” are, their academic and professional information, which assumptions have been mobilized for the defense of “early treatment” and the denial of vaccines for COVID-19, and the representativeness of their discourses in the medical practice context in Brazil. The analysis is based on a list of 276 doctors’ names, cataloged from their website, and on academic and professional information obtained through research on the Federal Medical Conseil website and the Scientific and Technological Development Nacional Council platform. The content analysis points to the centrality of the medical specialties of homeopathy and acupuncture in the population of Doctors for Life when compared to the set of specialist doctors in Brazil. The significant accession of homeopaths and acupuncturists to the Doctors for Life movement can clarify the understanding of specific medical rationalities, allowing us to distinguish which categories and ideas about the health-disease process are in dispute. It is concluded that, more than describing the problem, it is needed to establish its correlations with a group of events, practices, political decisions, economic linkages, shared beliefs, and a chain of processes that configure its undeniably social characteristics.