Em algumas áreas endêmicas de leishmaniose tegumentar(LT) causada por Leishmania (Viannia) braziliensis existem evidências de transmissão domiciliar, e de que cães infectados estariam associados a casos humanos de LT. Neste trabalho, são apresentados os resultados de um estudo realizado na Serra de Baturité, no Ceará, em 1993, quando foram investigadas as evidências de transmissão domiciliar e a associação entre LT humana e infecção canina. Casos humanos de LT foram indivíduos que apresentavam úlceras de bordas elevadas, arredondadas, de diâmetro > 5 mm, duração > 15 dias e uma Reação de Montenegro positiva. Cães soropositivos foram aqueles que apresentavam uma prova de imunofluorescência indireta positiva. A idade foi dividida em dois estratos, de 1 a 10 e 11 a 89 anos. A incidência de LT não estava associada ao sexo (Razão de Incidência (RI) = 1,21; IC 95%: 0,86 - 1,72) e nem à idade (RI = 1,38; IC 95%: 0,97 - 1,96). Para os indivíduos que conviviam com um ou mais cães soropositivos, a incidência de LT humana foi 45% mais elevada (RI = 1,45; IC 95%: 1,02 - 2,06) depois de ajustar para o sexo, e 48% (RI = 1,48%; IC 95%: 1,04 - 2,10) depois de ajustar para idade. Considerando-se o risco domiciliar, a incidência de LT humana foi duas vezes mais elevada (RI = 2,01; IC 95%:1,32 - 3,06) nos domicílios que possuíam um ou mais cães soropositivos. Conclui-se que os indivíduos foram acometidos de LT independente do sexo e da idade e que os casos humanos estavam associados à presença de cães infectados. Portanto, estes resultados suportam a hipótese de transmissão domiciliar da leishmaniose tegumentar na Serra de Baturité, no Ceará.
There is evidence of domestic transmission and infected dogs associated with human cases in some endemic areas for American Cutaneous Leishmaniasis (ACL), associated with Leishmania (Viannia) braziliensis. This paper presents the results of a study conducted in Serra de Baturité, State of Ceará, Brazil, aimed to gather evidence on the domestic transmission of cutaneous leishmaniais and the association between human and canine infection. Human cases of cutaneous leishmaniasis were defined as those with > 5 mm diameter round ulcers and raised borders, lasting at least 15 days and displaying a positive Montenegro skin test. Seropositive dogs were those with a positive indirect immunofluorescence assay. Age was classified into two strata, 1 to 10, and 11 to 89 years. The incidence of ACL was associated neither with gender (Incidence Rate (IR) = 1.21; 95% CI: 0.86-1.72), nor with age (IR=1.38; 95% CI: 0.97-1.96). The incidence of human ACL was 45% higher for those individuals living with seropositive dogs, (IR=1.45; 95% CI: 1.02-2.06), after adjustment for gender, and 48% higher (RI=1.45; 95% CI: 1.02-2.06), adjusting for age. Regarding the domestic risk, the incidence of human ACL was two-fold higher (IR=2.01; 95% CI: 1.32-3.06) in those households with one or more seropositive dogs. Humans were infected with L. (V) braziliensis regardless of gender and age, and infected dogs were associated with human ACL. Therefore, these results support the hypothesis of domestic/peridomestic transmission of L. (V) braziliensis.