RESUMO Este artigo discute a relação entre a pessoa surda, sua musicalidade e caminhos para seu desenvolvimento. Contrapomos ideias deterministas que consideram a irregularidade orgânica como quantitativamente pior, propondo novos olhares capazes de percebê-la por um prisma qualitativamente diferente. O alicerce da discussão é fundamentado na Teoria Histórico-cultural, cujos conceitos e modos de tratar o fenômeno constituem o que Vigotski afirma como o próprio método. Por essa via, indicamos a importância de enxergar a pessoa surda como um ser de possibilidades capaz de vivenciar sua musicalidade, e de desenvolver-se musicalmente. Imersas no imaginário do silêncio, muitas vezes são invisibilizadas e afastadas da possibilidade de relação com os fenômenos sonoros. Desenvolvemo-nos de forma integral e a musicalidade faz parte deste processo, superando a necessidade de possuir uma audição considerada como regular. A irregularidade biológica, embora existente, caminha em seu desenvolvimento permeada pela cultura. Assim, conclui-se defendendo que experiências e vivências musicais voltadas para o desenvolvimento das musicalidades precisam ser consideradas e organizadas por meio de processos educativos voltados para esse fim, independentemente de a pessoa ser ou não surda.
ABSTRACT This article discusses the relationship between the deaf person, their musicality, and paths for their development. We oppose deterministic ideas that consider the organic irregularity as quantitatively worse, proposing new looks capable of perceiving it through a qualitatively different prism. The foundation of the discussion is based on the Cultural-Historical Theory, which concepts and ways of dealing with the phenomenon constitute what Vigotsky asserts as the method itself. In this way, we indicate the importance of seeing the deaf person as a being of possibilities capable of experiencing their musicality and developing musically. Immersed in the imaginary of silence, they are often made invisible and kept away from the possibility of relating to sound phenomena. We develop in an integral way, and musicality is part of this process, going far beyond the need for what is considered to be regular hearing. Biological irregularity, although existing, goes along its development permeated by culture. Thus, we conclude by advocating that experiences and musical experiences, aimed at the development of musicality, need to be considered and organized through educational processes aimed at this end, regardless of whether the person is deaf or not.