A evolução tecnológica dos recursos diagnósticos e terapêuticos das últimas décadas tem possibilitado mudanças no manejo de pacientes com abscessos hepáticos piogênicos (AHP). A abordagem cirúrgica tem sido substituída ou complementada com os métodos de punção guiados por tomografia computadorizada (TC) ou por ultra-sonografia (US). Foi realizado um estudo retrospectivo de 27 casos de AHP atendidos num período de 15 anos, objetivando principalmente avaliar os métodos diagnósticos e terapêuticos utilizados em nosso hospital neste período, comparando a nossa realidade com os dados da literatura mundial. Dor abdominal (96%), febre (92%), e hepatomegalia (85%) foram os sinais e sintomas mais comuns; leucocitose (85%) com aumento dos bastões (88%), hipoalbuminemia (77%) e elevação da fosfatase alcalina (66%) foram as alterações laboratoriais mais freqüentes. Escherichia coli e Staphylococcus sp foram os agentes mais comumente identificados. A US abdominal foi o exame de eleição, fazendo diagnóstico em 92% dos casos, e a TC foi utilizada em 44% dos pacientes, complementar à US. Cinco pacientes (19%) foram tratados por punção com inserção de catéter de drenagem dirigida por US, enquanto 16 (59%) foram submetidos a laparotomia para drenagem e seis (22%) foram tratados apenas com antibioticoterapia. Sepse (37%) e derrame pleural (19%) foram as complicações mais freqüentes. Houve três óbitos (mortalidade de 11 %). Os métodos de drenagem percutânea apresentam menor morbidade que a drenagem cirúrgica em relação ao procedimento, diminuindo o risco de contaminação da cavidade peritoneal, além de apresentarem bons e similares resultados. A citologia do material aspirado possibilita também a complementação diagnóstica, principalmente para doenças subjacentes, facilitando a identificação da etiologia dos AHP. A drenagem por videolaparoscopia pode constituir outra alternativa à drenagem cirúrgica, com a vantagem da identificação dos abscessos não acessíveis à drenagem percutânea, mas apresentando ainda o risco de contaminação da cavidade peritoneal. Portanto, a indicação de drenagem por laparotomia para pacientes portadores de AHP deveria restringir-se àqueles onde houve falha na drenagem percutânea ou impossibilidade de acesso aos abscessos, principalmente no caso de abscessos múltiplos, e quando houver ruptura do abscesso ou grave comprometimento do estado geral do paciente. É necessário oferecer ao paciente o melhor tratamento de acordo com os recursos disponíveis do hospital, permitindo assim a diminuição das taxas de morbidade e mortalidade para esta doença.
The diagnosis and management of patients with pyogenic liver abscesses (PLA) in the last decades has improved with the development of ultrasound (US), computed tomography (CT) and guided percutaneous aspiration and/or catheter drainage interventional procedures, wich carne to substitute or complementate the surgical approach. In a retrospective study of 27 cases in a 15 year period, our main objective was to evaluate the diagnostic an therapeutic resources for the treatment of PIA used in our hospital, and to compare our data to literature. Abdominal pain (96%), fever (92%) and hepatomegaly (85%) were the signs and symptoms most frequently found; bastonetosis (88%), leukocytosis (85%), hypoalbuminemia (77%) and high serum alkhaline phosphatase level (66%) were the most common laboratorial findings. Escherichia coli and Staphylococcus sp were the pathogenous agents most frequently identified. Percutaneous catheter drainage US guided was performed in five patients (19%) and surgical drainage in /6 (59%). The other six patients (22%) were treated only by antibiotics. Three patients died (mortality of /1%). The guided percutaneous aspiration methods present less procedure-related morbidity than surgical drainage, diminishig the contamination risk of the peritoneal cavity avoiding peritonitis, and giving an equally good outcome. Also, the aspiration citology can play an essential complementary role to diagnosis, principally for underlying diseases. Video-laparoscopic drainage is an other method to consider as possible, offering another way before submitting the patient to laparotomy if the possibility of percutaneous guided drainage is gone. So, surgical drainage should be indicated only for patiens with failure of percutaneous drainage or not reachable multiple abscesses, and/or rupture of the PLA. For each case, it must be offered to the patient the best treatment according to the hospital available resources, allowing reduction of mortality and morbity rates.