Resumo As transformações na paisagem são produto histórico das relações sociais com o ambiente. Os ecossistemas modificados por essas agências respondem a estas transformações com novidades ecológicas, sobretudo na estrutura e composição. Atualmente podemos entender estas paisagens culturais como sistemas socioecológicos compostos por novos ecossistemas. As áreas distantes do centro urbano do Rio de Janeiro, conhecidas como “Sertão Carioca”, foram destinadas à agricultura e vêm sendo atingidas pelo processo de expansão urbana. Os ecossistemas remanescentes guardam as marcas da história de uso do solo. A bacia do rio Piabas, parte integrante do “Sertão Carioca”, foi analisada com objetivo de compreender a transformação da paisagem e identificar as mudanças na cobertura vegetal e uso das terras ocorridas no período de 1968 a 2018. Foram usadas fotografias aéreas de 1968 e imagens de satélite de 2018 a fim de comparar os mapeamentos da cobertura vegetal e uso das terras na escala 1:10.000. A bacia do rio Piabas em 1968 apresentava predominância de plantios agrícolas (63%), onde viam-se lavouras perenes ou temporárias e plantios de banana. Nas serras, encontravam-se fragmentos florestais remanescentes (25%) e árvores frutíferas plantadas ao redor das casas (4,3%). No ano 2018, predominam novos ecossistemas florestais em estágio médio de regeneração (47%). O avanço dessa classe contou com o recuo dos bananais e com o decreto do Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB). Das lavouras temporárias e permanentes, restam somente 10%. Comparando a variação das transformações nesses 50 anos, o crescimento da área urbana se destaca (539%), registrando a chegada da cidade ao “Sertão”. Essa expansão urbana ocorreu principalmente sobre ecossistemas de baixada. A falta de planejamento territorial que concilie a conservação da biodiversidade e atividades agroecológicas no processo de urbanização dessa região afetará as condições de qualidade de vida de seus residentes.
Abstract Landscape transformations are a historical product of social relationships with the environment. Thus, ecosystems modified by these agencies respond to these transformations by developing ecological novelties, most of all in ecosystem structure and composition. Nowadays, we understand these cultural landscapes as social-ecological systems composed of novel ecosystems. The areas which are distant from central Rio de Janeiro, known as Sertão Carioca, were originally used for agriculture and are now being affected by urban sprawl. The remnant ecosystems maintain traces of its land use history. Therefore, the Piabas river basin, an important part of the Sertão Carioca, was analyzed herein with the aim of identifying the land use history and land cover transformations which occurred between 1968 and 2018. Aerial photos from 1968 and satellite images from 2018 were used to compare the land use and land cover mappings for both years on the same scale 1:10,000. In 1968, the Piabas river basin presented a predominance of agriculture (63%), where permanent and temporary crop and banana plantations could be observed. We also verified remnant forests (25%) and fruit trees planted around houses (4.3%) in the mountainous areas. In 2018, there was a predominance of an emerging submountainous pluvial forest ecosystem (47%). The forest expansion occurred due to the decline in banana cultivation and the decree that created the Pedra Branca State Park (PEPB). As a result, only 10% of the permanent and temporary crops remain. The urban area growth stands out (539%) in comparing the variations of this 50-year transformation, registering the city’s arrival in the Sertão. This urban sprawl mostly occurred in lowland ecosystems. The lack of a territorial planning that reconciles and prioritizes biodiversity conservation and agroecological practices in the urbanization process will affect the quality of life conditions of people who live in this region.