RESUMO Introdução: O stresse ocupacional ocorre quando as exigências do emprego excedem a capacidade do trabalhador para lhes dar resposta; este tem uma prevalência bastante relevante e pode originar problemas de saúde mental e física, nomeadamente a nível cardiovascular, estando descrito um risco aumentado de mortalidade a este nível. O ambiente militar naval em contexto operacional pode aumentar o risco de exposição a situações de stresse. O objetivo deste estudo é abordar a questão do stresse ocupacional na guarnição de uma unidade naval da Marinha Portuguesa durante um exercício militar de grande envergadura. Métodos: Aplicou-se a versão resumida da Job Stress Scale à guarnição de uma fragata da classe Bartolomeu Dias; a informação recolhida foi inserida numa base de dados em ficheiro Microsoft Office Excel. Os valores médios de cada dimensão foram calculados para a amostra e por categoria profissional. Aplicou-se o teste t de student e o teste z para comparação de, respetivamente, médias e proporções entre amostras segundo a categoria profissional. Procedeu-se também à construção de gráficos representativos do modelo “exigência mental do trabalho - controlo do trabalhador” para a globalidade da amostra, versus categoria profissional e fez-se o cálculo de prevalências populacionais com intervalo de confiança a 95% corrigido para a população. Resultados: Os limites centrais dos quadrantes do modelo “exigência mental do trabalho - controlo do trabalhador” encontrados para a amostra foram 16,12±1,58 (exigência mental do trabalho) e 19,75±2,24 (controlo do trabalhador); no caso da dimensão “apoio social no trabalho” o valor médio encontrado foi de 18,93±2,92. Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas a favor da categoria profissional “oficiais” versus “sargentos” ou “praças” no valor médio das dimensões “controlo do trabalho” (p<0,01) e “apoio social no trabalho” (p<0,01). Apenas 38,3% da amostra se encontrava numa situação laboral “ideal” com exigência mental reduzida e controlo elevado do processo de trabalho. Além disso, 18,3% da amostra estava sujeita a um ambiente de elevado desgaste e 21,7% estava num contexto passivo. Na população estudada, apenas 28,1-48,6% (IC95%) dos militares cumpria os requisitos de situação laboral “ideal” e 10,2-26,5% (IC95%) estavam sujeitos a um ambiente de elevado desgaste, podendo estar sujeitos aos efeitos adversos do stresse ocupacional. Conclusões: Os resultados obtidos neste estudo devem motivar uma reflexão por parte das entidades com responsabilidades na gestão de pessoal e na saúde naval, visando a implementação de estratégias para a prevenção e/ou gestão do stresse ocupacional.
SUMMARY Introduction: Occupational stress occurs when the job requirements exceed the worker's capability to answer them; it has a very relevant prevalence and can lead to mental and physical health problems, especially at the cardiovascular level, with an increased mortality risk being described at this level. The naval military environment in operational context can increase the risk of exposure to stress situations. The objective of this study is to address the issue of occupational stress in the crew of a Portuguese Navy warship during a major military exercise. Methods: The abridged version of the Job Stress Scale was applied to the crew of a Bartolomeu Dias class frigate; the information collected was entered into a Microsoft Office Excel file database. The mean values of each dimension were calculated for the sample and by professional category. The t student test and the z test were applied to compare, respectively, means and proportions between samples according to the professional category. Graphs representative of the model “mental demands at work - worker's control” were also constructed for the whole sample and for each professional category and population prevalence with a 95% confidence interval (CI) corrected for the population was calculated. Results: The central limits of the “mental demands at work - worker's control” quadrants found for the sample were 16,12 ± 1,58 (mental demands at work) and 19,75±2,24 (worker's control); in the case of the “social support at work” dimension the mean value found was 18,93±2,92. There were statistically significant differences in favour of the “officers” professional category versus “sergeants” and “sailors” in the mean value of “worker's control” (p<0,01) and “social support at work” (p<0,01) dimensions. Only 38,3% of the sample was at the “ideal” work situation with reduced mental demands and high control of the work process. In addition, 18,3% of the sample was subjected to a high demand environment and 21,7% was in a passive context. In the study population, only 28,1-48,6% (95% CI) of the military met the requirements of an “ideal” work situation and 10,2-26,5% (95% CI) were subjected to a high demand environment, perhaps being subject to the adverse effects of occupational stress. Conclusions: The results obtained in this study should motivate a reflection by the entities with responsibilities in personnel management and naval health, aiming the implementation of strategies for the prevention and/or management of occupational stress.