RESUMO Um uso recorrente do predicado, “ser colonizado”, é um que o aplica imprecisamente, não em referência aos africanos e aos povos indígenas originais escravizados pelos europeus ou a descendentes de pessoas escravizadas, mas, sim, a acadêmicos que são cidadãos de ex-colônias como o Brasil, seus modos de pensar, trabalhos filosóficos, comunidades acadêmicas etc. Mas sob quais condições se deve proceder desse modo? E como é possível evitar que tal predicado seja atribuído a si ou a um trabalho autoral? Essas questões não têm recebido muita atenção. Ao dialogar com autores associados aos estudos decoloniais, filósofos brasileiros, continentais e analíticos, este artigo procura contribuir para mudar essa situação. Ele assim o faz ao propor um uso alternativo do predicado, “ser ‘sutilmente’ colonizado filosoficamente”, segundo o qual esse predicado deve ser aplicado em referência a trabalhos filosóficos que possuem as treze características descritas neste artigo ou ao menos a maioria delas. Argumenta-se que esse uso alternativo deve ser aceito porque ele é: preciso; exemplificado de modo detalhado por ao menos um trabalho filosófico; e “inexplosivo” ao não sugerir a alegação “explosiva” de que praticamente todos os trabalhos filosóficos ocidentais são colonizados pela metafísica ocidental.
ABSTRACT An often-adopted use of the predicate, “to be colonized”, is one that applies it loosely, not in reference to original Africans or indigenous people enslaved by Europeans or heirs of enslaved persons, but to academics who are citizens of former colonies like Brazil, their ways of thinking, philosophical works, academic communities, etc. But under what conditions one is to do that? And how can one avoid the attribution of such predicate to oneself or one’s works? These issues have not received much attention. While dialoguing with authors associated with decolonial studies, Brazilian, continental and analytic philosophers, this essay aims to contribute to change this situation. It does so by proposing an alternative use of the predicate, “to be ‘subtly’ philosophically colonized”, according to which this predicate is to be applied to philosophical works that have the thirteen features described in the essay or at least most of them. It is argued that this alternative use is to be endorsed because it is: precise; exemplified in a detailed way by at least one philosophical work; and “inexplosive” in not suggesting the “explosive” claim that practically all Western philosophical works are colonized by Western metaphysics.