O artigo explora o valor e os limites da teoria da agência por meio da comparação das relações entre fazendeiros de gado e capatazes no Rio Grande do Sul e em Buenos Aires nas primeiras décadas do século XIX. Considera que a teoria da agência e a abordagem da escolha racional baseiam-se em uma teoria da ação deficiente, pressupondo atores pré-sociais, que usam uma racionalidade universal, embora possam ser úteis para identificar certos dilemas centrais na relação entre principal e agente e para delimitar o conjunto das soluções viáveis. Como os atores geralmente não tentam otimizar suas escolhas, mas buscam soluções satisfatórias para os problemas que encontram, somente a história e a cultura explicam a "escolha" de um dos arranjos viáveis e não de outro. O contexto e a experiência se internalizam no habitus e na consciência prática dos atores, que moldam a definição dos problemas e as estratégias para resolvê-los. Os fazendeiros estudados neste artigo abordavam questões semelhantes de agência de maneiras diferentes. Parte da divergência devia-se aos contextos, mas muito dela se relacionava aos habitus distintos, decorrentes da origem do portenho na classe dos grandes comerciantes coloniais, sem experiência rural, e da origem do gaúcho na elite dos militares fazendeiros, dependentes do Estado. Nos dois casos, a interação repetida através do tempo levou a mudanças importantes na relação entre fazendeiro e capataz, dificilmente explicáveis pela escolha racional.
The article explores the value and limits of agency theory by comparing relations between ranchers and their managers in Rio Grande do Sul and Buenos Aires during the first few decades of the 19th century. Agency theory and the rational choice perspective are based on a deficient theory of action, assuming presocial actors who use a universal rationality to choose the most effective behaviors for attaining their objectives. Even so, agency theory is useful for identifying central dilemmas in the principal-agent relationship and for delimiting the set of viable solutions. As actors generally do not try to optimize their choices, but instead look for satisfactory solutions for the problems they encounter, only history and culture explain the "choice" of one viable arrangement and not another. Context and experience are internalized as habitus and practical consciousness, which shape the definition of problems and strategies for solving them. The ranchers studied here approached similar questions of agency in different ways. Part of this was due to divergent contexts, but much of it was related to their distinct habitus, stemming from the origin of the Argentine rancher in the colonial merchant class, lacking rural experience, and the origin of the Brazilian rancher in an elite of military officers and ranchers, dependent on the state. In both cases, repeated interaction through time led to important changes in the relationship between rancher and manager that are difficult for rational choice approaches to explain.
L'article explore la valeur et les limites de la théorie de l'agence en comparant les relations entre les exploitants de bétail et leurs administrateurs au Rio Grande do Sul et à Buenos Aires, au début du XIXe siècle. Il considère que la théorie de l'agence et l'abordage du choix rationnel se fondent dans une théorie de l'action déficiente, tout en présupposant des acteurs pré sociaux qui emploient une rationalité universelle. Malgré cela, ces théories peuvent être utiles afin d'identifier certains dilemmes dans la relation entre le principal et l'agent, et pour délimiter l'ensemble des solutions envisageables. Étant donné que les acteurs cherchent des solutions satisfaisantes aux problèmes qu'ils affrontent, sans essayer d'optimiser leur choix, il n'y a que l'histoire et a culture qui puissent expliquer le "choix" d'une des solutions au détriment d'une autre. Le contexte et l'expérience sont internalisées dans les habitus et dans la conscience pratique des acteurs, qui moulent la définition des problèmes et les stratégies pour les résoudre. Les exploitants étudiés abordaient des questions similaires d'agence de manières différentes. Plusieurs de ces divergences étaient liées aux habitus distincts, découlant de l'origine du portenho dans la classe des grands commerçants coloniaux, sans expérience rurale, et de l'origine du gaúcho dans l'élite des militaires exploitants agricoles, dépendants de l'État. Dans les deux cas, l'interaction répétée dans le temps impliqua des changements importants, difficilement explicables par la théorie du choix rationnel, dans les rapports entre l'exploitant rural et son administrateur.