O artigo trata essencialmente do papel das biociências, visto como uma cultura específica, no imaginário social contemporâneo, no que concerne à vida, à saúde e ao viver humano em todas as suas fases. Os meios de comunicação, sobretudo através da imprensa de divulgação de massa - sendo privilegiada no artigo a imprensa escrita - difundem para o conjunto da sociedade modos de pensar e agir derivadas das atividades científicas, em andamento ou finalizadas, na área das biociências, que compõem um campo disciplinar especializado de amplo espectro. Destacamos no texto a autoridade não apenas intelectual como moral do discurso normativo oriundo dessas atividades, face a outros discursos presentes na cultura, sejam eles tradicionais - de origem nativa ou externa, como as orientais - sejam eles paralelos atuais, como os das chamadas medicinas ou saberes terapêuticos alternativos derivados dos movimentos de contracultura que remontam aos anos setentas. Nossa hipótese é que esta influência normativa atinge áreas do viver e setores cada vez mais amplos das populações, sendo possível afirmar que as ciências sociais, sobretudo a sociologia, não vêm atribuindo à questão da vida e da saúde humanas a mesma importância que atribui a outros aspectos da vida social, e que é urgente pensar a cultura da vida e do viver veiculada pelas biociências.
This article deals with the growing influence of the so called biosciences, a large scope of disciplines concerning life, mainly human life, its origin, "normal" characteristics and evolution processes, from birth to death, in present culture. We are particularly interested in the effects of the discoveries and controversies of the diffusion of results of the research process in social imaginary. Through the mass media divulgation -specially press, mainly the magazines having as its objective the scientific research diffusion, an ensemble of rules about the way of conducting "normal" live all along its phases is communicated to the society as a whole. Our main questions are about to the influence of scientific culture, and the social effects of the normative nature of this kind of knowledge in present days. The scientific science, particularly the biosciences, has not only an intellectual power over public opinion and the other forms of knowledge present in contemporary society, as a moral power of conviction. People are convinced to behave as the bio scientific discourses proposes or their lives will be in danger, by their own fault. Respect to other forms of knowledge existing in present culture, no dialogue is actively proposed unless these forms show some "scientific evidences", which can demonstrate their "veracity" . We are worried about the dialogue capacity of this kind of producing facts and its verification, with traditional ways of knowing and conduction life, not only the ancient or oriental ways, but also the popular and alternative forms of knowing and conducting life in occidental contemporary culture since the seventies of last century.