La coexistencia de un proceso de jerarquización y discriminación entre grupos humanos, junto a dinámicas de hibridación cultural y social en el mundo portugués de la Edad Moderna, ha llevado a un intenso debate historiográfico. Este artículo pretende contribuir a la ampliación de nuestras perspectivas, enfocándose en la circulación de dos categorías globales de clasificación: negro y gentio (pagano) entre mediados del siglo XV y finales del XVI. En particular, explora las intersecciones entre la percepción del color de la piel y la reformulación de conceptos teológicos en una dirección biologizante, hechos paralelos al desarrollo de una teoría anti-judía basada en la pureza de la sangre. La línea de investigación nos lleva de las costas occidentales de África, donde inmediatamente se encuentra con el problema de la esclavitud, hasta Brasil, pasando por el sur de Asia. El intenso intercambio de las categorías negro y gentio en el mundo portugués nos provee una geografía y un proceso institucional de racialización alternativo al del Imperio Español.

The coexistence of a process of hierarchy and discrimination among human groups alongside dynamics of cultural and social hybridization in the Portuguese world in the early modern age has led to an intense historiographical debate. This article aims to contribute to extending our perspectives, focusing on the circulation of two global categories of classification: negro (Black) and gentio (Heathen) between the mid-fifteenth and late-sixteenth century. In particular, it explores the intersections between the perception of skin color and the reworking of theological concepts in a biologizing direction, which ran parallel to the development of an anti-Jewish theory based on blood purity. The line of enquiry leads from the coasts of West Africa, where it immediately meets the problem of slavery, to Brazil, via South Asia. The intense cross-fertilization of the categories of negro and gentio in the Portuguese world provides us with an alternative geography and institutional process of racialization to that of the Spanish Empire.

A coexistência de um processo de hierarquização e discriminação entre grupos humanos, junto a dinâmicas de hibridação cultural e social no mundo português da Idade Moderna, tem levado a um intenso debate historiográfico. Este artigo pretende contribuir para a ampliação de nossas perspectivas, enfocando-se na circulação de duas categorias globais de classificação: negros e gentios (pagãos) entre meados do século XV e finais do XVI. Em particular, explora as intersecções entre a percepção da cor da pele e a reformulação de conceitos teológicos numa direção biologizante, fatos paralelos ao desenvolvimento de uma teoria antijudaica baseada na pureza do sangue. A linha de pesquisa nos leva da costa oeste da África, onde imediatamente se encontra com o problema da escravidão, até o Brasil, passando pelo sul da Ásia. O intenso intercâmbio das categorias negro e gentio no mundo português nos fornece uma geografia e um processo institucional de racialização alternativo ao do Império espanhol.

O objetivo do presente artigo é fazer uma incursão na história conectada dos dois grupos mais discriminados do império português da época moderna, dando particular atenção ao caso da sociedade colonial brasileira: os ameríndios e os negros africanos escravizados. Essa história é resultante de uma complexa teia formada por causas de diversas naturezas. Examinamos aqui três delas: o juízo acerca da capacidade de trabalho, a influência do paradigma antijudaico e o debate sobre a salvação da alma dos ameríndios e dos negros africanos.

This article aims to move toward a connected history of the two more discriminated groups in the early modern Portuguese Empire, with special regard to Brazilian colonial society: the enslaved Amerindians and Black Africans. Entangled factors marked that history. Three of them are here considered: the judgment about working capacity, the influence of anti-Judaism and the debate on the eternal salvation of Amerindians and Black Africans.

Le but du présent article est de réaliser une incursion dans une histoire connectée des deux des groupes les plus discriminés de l'Empire Portugais de l'Époque Moderne, en accordant une attention particulière aux cas de la société coloniale brésilienne: les Amérindiens et les noirs africains soumis à l'esclavage. Cette histoire est le résultat d'une toile complexe constituée de causes de diverses natures. Nous examinons ici trois de ces causes: le jugement sur la capacité de travail, l'influence du paradigme antijudaïque et le débat sur le salut de l'âme des amérindiens et des noirs africains.