Este artigo investiga a concepção de coronelismo presente na trama de Terras do sem fim, de Jorge Amado. Lançado em 1943, o romance marcou a literatura brasileira ao narrar a épica luta armada entre dois clãs de fazendeiros do cacau que, na Ilhéus do início do século XX, disputavam a posse das matas virgens do Sequeiro Grande. Parte da crítica especializada, ao tentar compreender como o romancista concebia a relação dos coronéis com o Estado, viu neles a expressão de um poderio privado exacerbado, contra o qual a lei não poderia se impor: sobrevivência do patriarcalismo e das lutas de famílias, cujas origens históricas remontam à Colônia. Olhando mais de perto, porém, não se trata disso, ou não apenas disso. Jorge Amado percebeu que o Estado, nesse período histórico do coronelismo, estava relativamente mais fortalecido, motivo pelo qual os clãs rivais passavam a lutar pelo poder político e pelo domínio das instituições, como a polícia e a justiça, que os favoreceriam nas disputas contra oligarquias adversárias. Conclui-se que Amado, em certo sentido, antecipou a construção do conceito de coronelismo, que só viria a ser delimitado abstratamente um pouco mais tarde, em 1948, com a publicação de Coronelismo, enxada e voto, de Victor Nunes Leal.
This article investigates the concept of coronelism present in The violent land plot, by Jorge Amado. Released in 1943, the novel marked Brazilian literature by narrating the epic armed struggle between two clans of cocoa farmers who, in Ilhéus in the early 20th century, vied for possession of the virgin Sequeiro Grande forests. Part of specialized criticism, in attempting to understand how the novelist conceived the coronels' relationship with the State, saw in them the expression of an exacerbated private power, against which the law could not impose itself: the survival of patriarchalism and family struggles, whose historical origins date back to colonial Brazil. Looking more closely, however, this is not about this, or at least, not only, this. Jorge Amado realized that the State, in this historical coronelism period, was relatively more strengthened, the reason why the rival clans began fighting for political power and for institution domination, such as the police and the justice, that would favor them in disputes against opposing oligarchies. It is concluded that Amado, in a certain sense, anticipated the construction of the coronelism concept, which would only be abstracted sometime later, in 1948, with the Coronelismo: the municipality and representative government in Brazil publication, by Victor Nunes Leal.
Cet article analyse la conception de coronélisme présente dans la trame de l’ouvrage Les terres du bout du monde, de Jorge Amado. Paru en 1943, le roman a marqué la littérature brésilienne en racontant la lutte armée épique entre deux clans de producteurs de cacao qui se disputaient les forêts vierges du Sequeiro Grande (Ilhéus) au début du XXe siècle. En essayant de comprendre comment le romancier envisageait la relation entre les coronels et l’État, une partie de la critique spécialisée a vu en eux un pouvoir privé exacerbé contre lequel la loi de l’État n’arrivait pas à s’imposer: la survie du patriarcat et des luttes familiales, dont les origines historiques renvoient à la Colonie. Pourtant, un regard plus attentif montre que ce n’est pas si simple. Jorge Amado a réussi à montrer que l’État était relativement plus fort pendant cette période historique du coronélisme ; c’est pourquoi les clans rivaux se battaient pour le pouvoir politique, pour la maîtrise d’institutions telles que la police et la justice, qui les favoriseraient en cas de différends avec les oligarchies opposées. Finalement, Amado a d’une certaine manière anticipé la construction du concept de coronélisme, un concept seulement délimité de manière abstraite en 1948, avec la publication de Coronelismo, enxada e voto de Victor Nunes Leal.