O artigo apresenta uma reflexão sobre a necessidade do uso de uma argumentação ambígua para tratar o tema do conflito em dois autores clássicos: Maquiavel e Aristóteles. A idéia é que ambos os autores foram forçados a discutir o tema do conflito social de maneira ambivalente, em um momento segundo uma diretriz comum e criticando o conflito como a perdição da ordem e, em outro, vendo o conflito como uma força capaz de levar a uma forma superior de ordem política. De fato, em Aristóteles, o conflito pode tanto ser causa geradora de estabilidade de classes e de constituição para a forma virtuosa da democracia (a politéia) quanto da instalação da decadência na ordem constitucional. Em Maquiavel, o conflito é causa da liberdade que sustenta a república, tendo Roma como modelo, e também da infindável desagregação da república, tendo Florença como modelo. A sugestão para o debate é que essa ambigüidade, no caso, é radicada na necessidade de compatibilizar uma característica metafísica do quadro analítico desses autores, ou seja, o tempo circular da história, contraposto aos requerimentos analíticos empíricos que deveriam ser explicados pelas teorias do autor grego e do italiano. A comparação entre Maquiavel e Aristóteles baseia-se no fato de ambos terem, a despeito das enormes diferenças entre suas obras, enfrentado um tema comum, ou seja a noção de circularidade da história como um problema para resolver leituras mais realistas sobre o conflito de classes.
This article presents a reflection on the use of ambiguous argumentation in dealing with the theme of conflict in two classical authors: Machiavelli and Aristotle. The idea here is that both authors were forced to discuss the theme of social conflict in an ambivalent way, following a common directive of their time, criticizing conflict as the loss of order yet, at the same time, seeing conflict as a force that is capable of giving rise to a superior form of political order. In fact, in Aristotle, conflict may both breed class stability and the constitution of a virtuous form of democracy (the polity) and lead to the decadence of a constitutional order. In Machiavelli, conflict is at the root of the freedom that sustains the republic, with Rome as a model, as well as at the source of the spiraling disgregation of the republic, with Florence as its illustration. A suggestion for this debate is that such ambiguity, in this particular case, resides in the need to accomodate a metaphysical characteristic of these authors' analytical frame, that is, the circular nature of historical time, in tension with the empirical analytical requirements that the theories of the Greek and the Italian author were expected to meet. A comparison of Machiavelli and Aristotle is based on the fact that_ notwithstanding enormous differences in their work - both dealt with a common issue, that is, the notion of the circularity of history as a problem to be resolved, toward more realistic interpretations of class conflict.
L'article présente une réflexion sur la nécessité d'utiliser d'une argumentation ambiguë pour traiter le sujet du conflit chez deux auteurs classiques: Machiavel et Aristote. L'idée c'est que tous les deux auteurs ont été forcés à discuter le thème du conflit social de façon ambivalente, à un moment donné, selon une directive commune, et en critiquant le conflit comme une perdition de l'ordre; et, à un deuxième moment, en voyant le conflit autant qu'une force capable de mener à une force supérieure d'ordre politique. En effet, chez Aristote, le conflit peut être la cause de la stabilité de classes et de la constitution pour la forme vertuese de la démocratie (la politeia), tout comme il peut être la cause de l'installation de la décadence dans l'ordre constitutionnel. Chez Machiavel, le conflit est la cause de la liberté qui soutient la république, en ayant Rome comme modèle, et aussi de la désagrégation sans fin de la république, en ayant Florence comme modèle. La suggestion de débat, c'est que cette ambiguïté, dans ce cas, est enracinée dans la nécessité de concilier une caractéristique métaphysique dans le cadre analytique de ces auteurs, cela signifie, le temps circulaire de l'histoire, en opposition aux exigences analytiques empiriques qui devraient être expliquées par les théories des auteurs grec et italien. La comparaison entre Machiavel et Aristote est basée sur le fait que tous les deux ont fait face à un thème en commun, malgré les énormes différences entre leurs oeuvres, c'est à dire, la notion de circularité du temps comme un problème pour résoudre des lectures plus réalistes sur les conflits de classes.