RESUMO Este artigo trata das respostas às demandas de proteção das cidades feitas por novos agentes sociais à instituição federal de preservação, hoje o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), de 1979 até 1989, durante o processo de redemocratização do Brasil. Problemas urbanos, intensificados na década de 1970, envolvendo a destruição de áreas das cidades, assim como transformações nos sítios tombados, provocaram mudanças na valorização desses bens culturais, uma vez que as demandas de proteção não necessariamente correspondiam aos padrões até então usados para proteção das cidades pela instituição federal de preservação. Até então as ações de preservação se estruturavam tendo como agentes sociais intelectuais modernistas e uma visão hegemônica do que seria a representação de uma identidade nacional: arquitetura colonial brasileira e imóveis considerados excepcionais. No atendimento aos novos pedidos de proteção, foram adotados outros valores de patrimônio, admitindo-se uma heterogeneidade de estilos arquitetônicos nos sítios, a historicidade urbana e assumindo o conceito cidade-documento na superação do critério estilístico de valoração das cidades. A instituição aproximou-se dos habitantes dos sítios tombados e promoveu ações de produção de conhecimento para o estabelecimento de parâmetros e normas de análise das intervenções solicitadas por eles. Destaca-se a Constituição Federal de 1988, por ser a primeira que definiu um conceito orientador das práticas de preservação e por ter os grupos sociais como protagonistas da valorização dos bens culturais.
ABSTRACT This article deals with the responses to the demands of protection of cities made by new social agents to the federal institution of preservation, from 1979 to 1989, during the process of redemocratization in Brazil. Urban problems, intensified in the 1970s, involving the destruction of urban areas, as well as transformations in the listed sites, caused changes in the valuation of these cultural goods, since the demands did not necessarily correspond to the standards previously used to protect cities by the federal preservation institution. Until then modernist intellectual agents structured preservation actions and a hegemonic vision of what would represent a national identity: Brazilian colonial architecture and exceptional buildings. In response to new requests, other heritage values were adopted, admitting the heterogeneity of architectural styles on the sites, the urban historicity, and assuming the concept of city’s as documents in overcoming the stylistic criteria of valuing towns. The institution approached the inhabitants of the listed sites and promoted research for the production knowledge to establish parameters and analysis standards for the interventions requested by them. The 1988 Federal Constitution stands out, for being the first to define a guiding concept for preservation practices and for having social groups as protagonists in the valorization of cultural goods.