RESUMO Este artigo objetiva problematizar o processo de avaliação do sujeito com Deficiência Intelectual (DI) e seus efeitos em termos de definição, de classificação e de diagnósticos produzidos sobre a DI. As discussões propostas partem de uma análise referente às diferentes abordagens presentes nos manuais da Associação Americana de Deficiência Intelectual e de Desenvolvimento (AAIDD, 2010 e AAMR, 2006) e suas (re)significações. Procuramos colocar sob tensionamento discursos utilizados para delimitar quem são os sujeitos com DI; que características os constituem; que comportamentos os caracterizam; que potencialidades em termos de aprendizagens eles possuem e que apoios necessitam no contexto educacional. Em articulação com tais análises, apresentamos os dados produzidos no projeto “As contribuições do Rio Grande do Sul para a validação da Escala de Intensidade de Suporte - SIS no Brasil”. Amparadas teoricamente nas discussões socioantropológicas propostas por Lev S. Vigotski, tomamos tais dados como elementos para a construção de uma análise que nos possibilite indicar que faz-se possível (e necessário) um olhar para a DI que não parta dos indicadores de QI, historicamente responsável pela delimitação da DI em níveis de severidade, cujas possibilidades de desenvolvimento passaram a ser antecipadamente indicadas pelos diagnósticos clínicos. Nesse sentido, entendemos que, ao deslocarmos a ênfase do diagnóstico do QI para os sistemas de apoio, passamos a perceber um sujeito produzido nas práticas culturais, cujas possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem não são exclusivamente determinadas pelos seus aspectos biológicos, mas, sim e principalmente, pelas interações sociais que ele estabelece ao longo de seu desenvolvimento.
ABSTRACT This paper aims at problematizing the assessment process of subjects with Intellectual Disabilities (ID), and its effects in terms of definition, classification and diagnoses produced on ID. The proposed discussions stem from an analysis of the different approaches presented in the manuals of the American Association for Intellectual and Developmental Disability (AAIDD, 2010 and AAMR, 2006) and their (re)significations. We seek to put under tension the discourses used to define who the subjects with ID are; what characteristics constitute them; what behaviors characterize them; what learning potential they have and what supports they need in the educational context. In articulation with these analyzes, we present data produced in the project “The contributions of Rio Grande do Sul for the validation of the Support Intensity Scale - SIS, in Brazil”. Based theoretically on the socio-anthropological discussions proposed by Lev S. Vygotsky, we consider the data as elements for the construction of an analysis that indicates the possibility (and necessity) to look at the ID from a perspective other than one that derives from IQ indicators, which are historically responsible for the delimitation of ID in levels of severity, whose development possibilities were previously indicated by clinical diagnoses.