RESUMO: Vesículas elípticas ocas são observadas em afloramentos de arenitos argilosos muito finos e siltitos lacustrinos do Membro Pitanga da Formação Maracangalha, expostos na Ilha de Maré, sudeste da Bacia do Recôncavo, Estado da Bahia, Brasil. Essas rochas foram depositadas em condições subaquosas e são consideradas depósitos gravitacionais do tipo slurry. Essas feições têm sido tradicionalmente interpretadas como sendo estruturas de escape de água, resultado da ação do diapismo de folhelhos sotopostos da Formação Candeias. Este trabalho propõe que as vesículas foram geradas durante uma intensa dissociação de hidratos de gás em resposta à atividade tectônica existente naquele sistema lacustre. O soerguimento tectônico do fundo do lago teria propiciado a redução da pressão confinante nos poros sedimentares, bem como o aumento de temperatura nas águas de fundo, resultando na instabilidade dos hidratos de gás contidos nas porções rasas dos sedimentos e causando uma violenta liberação de metano - ou gás carbônico (CO2) - e água. Se correta, esta proposta tem um grande impacto na interpretação paleoambiental da Bacia do Recôncavo, uma vez que corroborará com a hipótese corrente de que as rochas do Membro Pitanga teriam sido depositadas em ambientes profundos, suficientes para a formação de hidratos de gás e a consequente dissociação em período de soerguimento. Por outro lado, permite uma interpretação adicional acerca da gênese de estruturas de escape de fluidos em rochas sedimentares, lacustres ou marinhas, servindo como um potencial indicador de paleobatimetria.
ABSTRACT: Empty elliptical vesicles are observed in outcrops of Barremian very fine clayey sandstone to siltstone lacustrine slurry deposits of the Pitanga Member (Maracangalha Formation), exposed in the Maré Island, Southern Recôncavo Basin, Brazil. These sedimentary features have been traditionally interpreted as water escape structures triggered by the diapirism of the underlying shales of the Candeias Formation. This work proposes that vesicles were generated during massive gas hydrate dissociation as a result of tectonic activity in a paleolake system. Tectonic uplift would have triggered both the reduction of the confining pressure as well as an increase in lake bottom temperature, resulting in the instability of gas hydrate and causing intense release of both methane - or carbon dioxide (CO2) - and water. On one hand, this proposal has a strong impact on paleoenvironmental interpretations, giving support to the current hypothesis that rocks related to the Pitanga Member would have been deposited under water columns deep enough for gas hydrate formation and subsequent dissociation. On the other hand, it provides new insights on the genesis of fluid escape structures in sedimentary rocks, both lacustrine and marine, providing a paleobathymetric indicator.