Este ensaio é proposto como reflexão eminentemente teórica e possui três objetivos principais. Primeiramente, discutir a produção de discursos sobre responsabilidade social empresarial (RSE), sob uma perspectiva crítica, entendendo tais discursos como campo de embate político, onde, em nome de uma causa aparentemente convergente, atores e poderes antagônicos se enfrentam e lutam por projetos bastante diferentes, quando não opostos. Em seguida, analisar o estado atual do ensino e da pesquisa sobre RSE no Brasil, tanto em termos das principais abordagens adotadas, como das referências e métodos que aí predominam, de modo a verificar quão questionadoras ou reprodutoras do statu quo são essas práticas. Por fim, no intuito de ilustrar o tipo de enfoque sistêmico, que se revela geralmente ausente desse campo de estudos, são abordadas três características estruturais e estruturantes das sociedades capitalistas avançadas: a tendência à hiper-racionalização, que tudo rotiniza e desumaniza; a proliferação de microcomunidades relativamente fechadas de comunicação e ação; e a exacerbação do individualismo e do desenraizamento social. Argumenta-se que estes fenômenos contemporâneos, assim como outros tantos, da mesma natureza, inevitavelmente influenciam qualquer possibilidade concreta ou eventual resultado, no que diz respeito à chamada responsabilidade social empresarial.
This essay is intended primarily as a theoretical reflection on corporate social responsibility (CSR) and has three main objectives. Firstly, to discuss the production of CSR discourses from a critical perspective, seeing these discourses as a locus of political struggle where, under the name of an apparently common cause, conflicting forces and actors may actually fight for very different or even opposing goals. Secondly, to analyze the current state of CSR education and research in Brazil by identifying the main approaches adopted by practitioners in the field, as well as their most common references and methods, in order to verify how challenging or validating of the status quo these practices are. Finally, in order to illustrate the kind of systemic approach that appears to be generally absent from CSR teaching and research, the essay discusses three structural and structuring characteristics of advanced capitalist societies: their strong tendency towards hyper-rationalization, which routinizes and dehumanizes everything; the proliferation of relatively closed micro-communities of communication and action; and the intensification of individualism and social rootlessness. It is argued that these contemporary phenomena - alongside many similar ones - inevitably end up having a strong influence on the concrete possibilities or eventual outcomes regarding any so-called corporate social responsibility.