Resumo As cidades ao redor do mundo vivenciam hoje experiências nas quais uma quantidade cada vez maior de dados gerados pelos cidadãos é usada para fins de gestão e planejamento urbano, com potencial para estimular o engajamento e a participação cidadã, promover a inclusão e tornar as comunidades mais eficientes, habitáveis e justas. Ao mesmo tempo, os avanços na ciência da reidentificação, nos mercados de dados e na análise de big data, trazem consigo preocupações quanto a atividades de coleta, uso, compartilhamento e descarte de dados, processos que devem estar cercados de cautela. À medida que novas tecnologias geram mais dados do que nunca, como aproveitar as oportunidades trazidas para as cidades, preservando a privacidade individual e construindo a confiança do público? Quais as experiências vivenciadas por cidades que depararam com esse desafio? E como as cidades brasileiras podem navegar entre iniciativas de uso de dados que acarretam benefícios aos cidadãos, como a economia de recursos e o aumento de eficiência da administração pública das cidades, mas que podem cobrar um custo significativo de privacidade? Este artigo busca explorar essas questões, apoiando-se na discussão de experiências internacionais e nacionais em que se faz presente a tensão entre o crescente uso de dados pelas chamadas cidades inteligentes e a proteção da privacidade dos cidadãos.
Abstract Cities around the world today deal with situations in which an ever-increasing amount of citizen-generated data is used for urban planning and management purposes, with the potential to stimulate citizen engagement and participation, to promote inclusion, and to make communities more efficient, liveable and just. At the same time, advances in the science of re-identification, trade of personal data, and big-time analytics bring with them concerns about the collection, use, sharing, and disposal of data, processes that must be surrounded by caution. As new technologies generate more data than ever before, how to seize the opportunities brought to the cities, while preserving individual privacy and building public confidence? What experiences have been brought by cities that have faced this challenge? And how can Brazilian cities navigate between data-use initiatives that bring benefits to citizens, such as resource savings and increased efficiency of city government, but which can come with a significant cost of privacy? This article seeks to explore these issues, discussing international and national cases, in which the tension between the growing use of data by the so-called smart cities and the protection of citizens’ privacy is present.