Objetivo principal: Avaliar se a prescrição de anticoagulação oral (ACO) varia significativamente entre as especialidades responsáveis pelo diagnóstico de fibrilhação/flutter auricular (FA/FLA). Objetivos específicos: Avaliar se a especialidade responsável pelo diagnóstico de FA/FLA é a especialidade responsável pela prescrição de ACO; analisar o tempo decorrido entre o diagnóstico de FA/FLA e a prescrição de anticoagulação. Tipo de estudo: Observacional, retrospetivo e analítico. Local do estudo: Quatro Unidades de Saúde Familiar (USF) localizadas no distrito do Porto. População: Utentes com idade igual ou superior a 18 anos, com diagnóstico inaugural de FA/FLA efetuado entre janeiro de 2010 e dezembro de 2015. Material e métodos: Identificação de todos os utentes da população e colheita das variáveis demográficas e clínicas de interesse para o estudo. Realizada uma regressão logística múltipla de modo a avaliar se a prescrição de ACO varia de forma significativa entre as especialidades responsáveis pelo diagnóstico. A concordância entre a especialidade que diagnosticou FA/FLA e a especialidade que prescreveu ACO foi avaliada através de coeficiente de concordância kappa. O tempo decorrido entre o diagnóstico e a prescrição correspondeu ao período de tempo, em dias, decorrido entre a data do primeiro registo ou codificação de FA/FLA e o momento da primeira prescrição de ACO. Resultados: Incluídos 606 doentes: 60,6% mulheres, idade média 75,1 anos. Entre os diagnósticos de FA/FLA, 45,7% foram efetuados por medicina geral e familiar (MGF). Não foram encontradas diferenças significativas na prescrição de ACO entre MGF e as especialidades hospitalares de cardiologia (OR=2,14; IC95% 0,74-6,12; p=0,157) e medicina interna (OR=0,67; IC95% 0,40-1,11; p=0,123). O número reduzido de casos de FA/FLA diagnosticados por neurologia não permitiu estabelecer qualquer comparação conclusiva entre MGF e esta especialidade. Registou-se boa concordância entre a especialidade que diagnostica FA/FLA e a que prescreve ACO (kappa=0,740 e p<0,001). O tempo decorrido entre o diagnóstico de FA/FLA e a instituição de ACO foi significativamente superior (p<0,001) em doentes diagnosticados por MGF (mediana de 15,0 dias) em comparação com cardiologia e medicina interna (medianas de 0,0 e 3,0 dias, respetivamente). Conclusão: Ao contrário de estudos internacionais, este estudo demonstrou que há grande concordância entre a especialidade responsável pelo diagnóstico de FA e a especialidade que prescreve a anticoagulação. Os médicos de família (MF) demoram, no entanto, mais tempo a prescrever anticoagulação. Será importante estabelecer estratégias que permitam ao MF prescrever a anticoagulação de forma mais célere, aproveitando, se possível, o momento do diagnóstico.
Main purpose: To evaluate if the prescription of oral anticoagulants (OAC) varies significantly among the specialties responsible for the diagnosis of atrial fibrillation/auricular flutter (AF/AFL). Specific purposes: To evaluate if the specialty responsible for the diagnosis of AF/AFL is the specialty responsible for the prescription of OAC; to analyse the time elapsed between the diagnosis of AF/AFL and the prescription of OAC. Study: Observational, retrospective, and analytical. Place: Four Family Health Units (FHU). Target population: Users aged 18 years old or over, with a new-onset diagnosis of AF/AFL performed between 01/01/2010 and 31/12/2015. Material and methods: Identification of all users and collection of demographic and clinical variables of interest for the study. Multivariate logistic regression was performed in order to evaluate whether the prescription of OAC varies significantly among the specialties responsible for the diagnosis. The agreement between the specialty that diagnosed AF/AFL and the specialty that prescribed OAC was evaluated through the kappa concordance coefficient. The time elapsed between diagnosis and prescription corresponded to the period of time between the date of the first registration or coding of AF/AFL and the moment of the first prescription of OAC, in days. Results: 606 patients were included: 60.6% women, mean age 75.1 years. Amongst AF/AFL diagnoses, 45.7% were performed by general and family medicine specialists (GFM). There were no significant differences in the prescription of OAC between GFM and cardiology (OR=2.14; 95% CI 0.74-6.12, p=0.157) and internal medicine specialists (OR=0.67; 95%CI 0.40-1.11, p=0.123). The small number of cases of AF/AFL cases diagnosed by neurology did not allow any conclusive comparison between this specialty and FGM. There was good agreement between the specialty diagnosing AF/AFL and the one prescribing OAC (kappa=0.740 and p<0.001). The time elapsed between the diagnosis of AF/AFL and the start of OAC was significantly higher (p<0.001) in patients diagnosed by FGM specialists (median 15.0 days), compared to cardiology and internal medicine consultants (median 0.0 and 3.0 days, respectively). Conclusion: Contrarily to international studies, this study demonstrated that there is great agreement between the specialty responsible for the diagnosis of AF/AFL and the specialty that prescribes anticoagulation. Family doctors, however, take longer to prescribe anticoagulation. It will be important to establish strategies that allow FGM specialists to prescribe anticoagulation more timely, and if possible, at the time of diagnosis.