Resumo Este artigo é dividido em duas partes. Na primeira, são comentados três poetas (Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Murilo Mendes) que, na primeira metade do século XX, tematizaram as experiências históricas das guerras, da ascensão dos fascismos e das heranças coloniais em poemas em que a voz lírica se coloca à beira-mar. Na segunda parte, tomaremos o Navio Manaus como objeto de reflexão, sobretudo o uso de seu porão como prisão, tal como relatado em Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos. Aqui, novamente, temos uma experiência histórica contemporânea tematizada por meio de conexões entre história, poesia e imaginário, no que se refere ao espaço oceânico, o qual adquire assim um estatuto de alegoria histórica. Nessa alegoria temos a figuração do emigrante sem porto de chegada, sem lar, aqueles que, segundo Hannah Arendt, perderam o direito de ter direitos. As duas partes do artigo confluem para uma reflexão sobre os frágeis, mas necessários, poderes da narração frente a experiências extremas e traumáticas, em contraste com o esquecimento inocente num mundo sem inocência.
Abstract This article is divided into two parts. In the first, three poets are commented (Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes and Fernando Pessoa) who, in the first half of the twentieth century, discussed the historical experiences of wars, the rise of fascisms and colonial inheritances in poems in which the lyrical voice stands by the sea. In the second part, we will take the Manaus Ship as an object of reflection, above all the use of its basement as a prison, as reported in Memórias do Cárcere, by Graciliano Ramos. Here, again, we have a contemporary historical experience thematized through connections between history, poetry and the imaginary, with regard to the oceanic space, which thus acquires a status of historical allegory. In this allegory we have the figure of the emigrant without a port of arrival, without a home, those who, according to Hannah Arendt, lost the right to have rights. The two parts of the article converge for a reflection on the fragile, but necessary, powers of narration in the face of extreme and traumatic experiences, in contrast to the innocent forgetfulness in a world without innocence.