Resumo Introdução: A ventilação não invasiva (VNI) é uma opção válida, ainda que não consensual, no tratamento de doentes com falência respiratória aguda. O presente artigo tem o objetivo de identificar fatores preditores de resposta à VNI neste grupo de doentes. Métodos: Estudo retrospectivo longitudinal que incluiu todos os doentes admitidos numa unidade de cuidados intensivos nos anos 2016 e 2017, nos quais a VNI foi utilizada no decurso de falência respiratória aguda de novo (PaO2/FiO2 < 200). Foram incluídos doentes com pneumonia adquirida na comunidade (PAC) e síndrome da dificuldade respiratória aguda (SDRA) e comparados doentes com resposta à VNI com os não respondedores. Resultados: Entre 2016 e 2017, 83 doentes com falência respiratória aguda de novo foram tratados com VNI. Destes, 50 (60%) foram tratados com sucesso. A causa mais comum de falência respiratória foi a PAC, que registou valores de resposta à VNI de 70%. Doentes respondedores à terapêutica de ventilação não invasiva apresentaram scores de gravidade (APACHE 2; SAPS 2; SOFA) inferiores à admissão (17,5; 37,5; 6 vs 22; 48; 9, p=0,014, p<0,01 e p<0,01, respetivamente). Os não respondedores apresentaram valores significativamente inferiores de pH arterial (7,35 vs 7,42, p<0,01), rácio PaO2/FiO2 (118 vs 145, p=0,03), e valores significativamente superiores de lactato sérico (2,2 vs 1,46, p<0,01) assim como maior necessidade de suporte vasopressor (51,5% vs 30%, p=0,04). No que diz respeito a dados gasimétricos após início de VNI, o rácio PaO2/FiO2 registou um aumento superior e estatisticamente significativo no grupo de doentes com resposta à VNI (+53, p<0,01 vs +14, p=0,09). Conclusão: A VNI foi eficaz como estratégia ventilatória em 60% dos doentes com falência respiratória aguda. Os doentes que aparentam ter maior probabilidade de resposta à introdução da VNI são: doentes com PAC, com ou sem SDRA moderado (em detrimento do SDRA severo), doentes sem acidemia respiratória e doentes sem hiperlactacidemia e/ou necessidade de suporte vasopressor. A melhoria do ratio PaO2/FiO2 após as primeiras duas horas de VNI parece ser um bom preditor de sucesso.
Abstract Introduction: Non-invasive mechanical ventilation (NIV) is a valid, albeit non-consensual option for the treatment of patients with Acute Respiratory Failure (ARF). The following article has the main goal of identifying predictors of therapeutic response to NIV. Methods: Retrospective longitudinal study which included patients in an Intensive Care Unit in 2016 and 2017, in whom NIV was started once they developed de novo ARF (PaO2/FiO2 < 200). We included patients with community acquired pneumonia (CAP) and acute respiratory distress syndrome (ARDS) and compared NIV-responders to non-responders. Results: Between 2016 and 2017, 83 patients with de novo ARF were treated with NIV. Of those, 50 (60%) were treated successfully. The most common cause of ARF was CAP, which was successfully managed with NIV in 70% of cases. NIV-responders presented lower severity scores (APACHE 2; SAPS 2; SOFA) at admission (17.5; 37.5; 6 vs 22; 48; 9, p=0.014, p=<0.01 and p<0.01, respectively). Non-responders presented significantly lower arterial pH values at admission (7.35 vs 7.42, p<0.01), PaO2/FiO2 ratio (118 vs 145, p=0.03), higher seric lactate (2.2 vs 1.46, p<0.01) as well as need for vasopressor support (51.5% vs 30%, p=0.04). The change in the PaO2/FiO2 ratio within 2 hours of treatment was wider in the group of NIV-responders, unlike non-responders (+53, p<0.01 vs +14, p=0.09). Conclusion: NIV was an effective respiratory support strategy in 60% of patients with de novo ARF. Patients who seem to have a higher probability of NIV success are: patients with CAP; with or without moderate ARDS, rather than severe; with no respiratory acidaemia; patients with no lactacidemia or patients with no need for vasopressor therapy. The ability of NIV to significantly alter the PaO2/FiO2 ratio after 2 hours of technique seems to be a good success predictor.