A lipodistrofia associada ao HIV (LAHIV) acomete 40% a 50% dos pacientes infectados pelo vírus, mas sua prevalência no Brasil é desconhecida. O objetivo deste trabalho foi avaliar a prevalência de LAHIV entre adultos brasileiros infectados, bem como sua relação com fatores de risco cardiovascular e síndrome metabólica (SM). Foram avaliados 180 pacientes maiores de 18 anos, infectados por HIV, atendidos no Ambulatório de Infectologia da Universidade Estadual de Londrina. Por meio de entrevista e revisão de prontuário, foram avaliados dados antropométricos, pressão arterial, antecedentes mórbidos pessoais e familiares, duração da infecção por HIV e da aids, drogas anti-retrovirais utilizadas, CD4+, carga viral, glicemia e perfil lipídico. A LAHIV foi definida como a presença de alterações corporais percebidas pelo próprio paciente e confirmadas ao exame clínico. A SM foi diagnosticada usando os critérios do Adult Treatment Panel III (NCEP-ATPIII), revistos e atualizados pela American Heart Association (AHA/NHLBI). A prevalência observada de LAHIV foi de 55%. Os pacientes com LAHIV apresentaram maior duração da infecção por HIV, da aids e do uso de anti-retrovirais. Na análise multivariada, estiveram independentemente associados ao risco de LAHIV: sexo feminino (p = 0,006) e duração da aids > 8 anos (p < 0,001). Quanto aos critérios para SM, hipertensão foi detectada em 32%, baixo HDL-colesterol em 68%, hipertrigliceridemia em 55%, cintura aumentada em 17% e glicemia aumentada e/ou diabetes em 23% dos indivíduos. A cintura aumentada e a hipertrigliceridemia foram mais comuns em portadores de LAHIV. A SM foi identificada em 36% dos pacientes. Na análise multivariada, estiveram associados à SM: IMC > 25 kg/m² (p < 0,001), história familiar de obesidade (p = 0,01), uso de indinavir (p = 0,001) e idade > 40 anos no diagnóstico do HIV (p = 0,002). A LAHIV apresentou tendência a ser mais comum em portadores de SM (65% versus 50%, p = 0,051). A prevalência de LAHIV que se observou neste grupo (55%) foi similar à descrita em estudos prévios de outros países. A prevalência de SM nestes pacientes parece ser diferente da descrita em adultos brasileiros não-infectados pelo HIV.
Lipodystrophy in HIV-infected patients (LDHIV) affects 40-50% of HIV-infected patients, but there are no data on its prevalence in Brazil. The aim of this study was to assess the LDHIV prevalence among HIV-infected adult Brazilian individuals, as well as to evaluate LDHIV association with cardiovascular risk factors and the metabolic syndrome (MS). It was included 180 adult HIV-infected outpatients consecutively seen in the Infectology Clinic of Universidade Estadual de Londrina. Anthropometric and clinical data (blood pressure, family and personal comorbidities, duration of HIV infection/AIDS, antiretroviral drugs used, CD4+ cells, viral load, fasting glycemia and plasma lipids) were obtained both from a clinical interview as well as from medical charts. LDHIV was defined as the presence of body changes self-reported by the patients and confirmed by clinical exam. MS was defined using the NCEP-ATPIII criteria, reviewed and modified by AHA/NHLBI. A 55% prevalence of LDHIV was found. Individuals with LDHIV presented a longer infected period since HIV infection, longer AIDS duration and longer use of antiretroviral drugs. In multivariate analysis, women (p=0.006) and AIDS duration >8 years (p<0.001) were independently associated with LDHIV. Concerning MS diagnostic criteria, high blood pressure was found in 32%, low HDL-cholesterol in 68%, hypertriglyceridemia in 55%, altered waist circumference in 17% and altered glycemia and/or diabetes in 23% of individuals. Abnormal waist and hypertriglyceridemia were more common in LDHIV-affected individuals. MS was diagnosed in 36%. In multivariate analysis, the factors associated with MS were: BMI >25Kg/m² (p<0.001), family history of obesity (p=0.01), indinavir (p=0.001) and age >40 years on HIV first detection (p=0.002). There was a trend to higher frequency of LDHIV among patients with MS (65% versus 50%, p=0.051). LDHIV prevalence among our patients (55%) was similar to previous reports from other countries. MS prevalence in these HIV-infected individuals seems to be similar to the prevalence reported on Brazilian non-HIV-infected adults.