A síndrome de Cushing (SC) é uma desordem sistêmica crônica causada por hipercortisolismo endógeno ou exógeno, associada a um aumento da taxa de mortalidade devido às conseqüências clínicas do excesso de glicocorticóides, especialmente a doença cardiovascular. Após a cura, usualmente obtida pela remoção cirúrgica do tumor responsável pela desordem, a normalização da secreção de cortisol não é sistematicamente seguida da recuperação das complicações clínicas desenvolvidas durante a fase ativa da doença, e é freqüentemente seguida pelo surgimento de novas manifestações clínicas induzidas pela queda dos níveis de cortisol. Estas evidências foram, na sua maioria, documentadas em pacientes com SC de origem hipofisária, após a ressecção cirúrgica do tumor na hipófise. Na verdade, a despeito de uma melhoria na taxa de mortalidade, a síndrome metabólica e seu conseqüente risco cardiovascular têm se mostrado parcialmente persistentes após a remissão da doença, em estrita relação com a resistência à insulina. Anormalidades esqueléticas, especialmente a osteoporose, melhoram após a normalização dos níveis de cortisol, mas requerem um longo tempo ou o uso de tratamento específico, principalmente bisfosfonatos, para se obter a normalização da massa óssea. Uma melhora significativa ou mesmo resolução dos distúrbios mentais têm sido descritos em pacientes curados da SC, embora em vários casos o declínio cognitivo persista e a melhora psicológica ou psiquiátrica tenham sido erráticas, demoradas ou incompletas. Por outro lado, o desenvolvimento ou exacerbação de processos autoimunes, em especial as doenças autoimunes da tiróide, foram documentadas em pacientes predispostos com SC, após a remissão da doença. A totalidade dessas complicações, persistentes ou ocorrendo após o tratamento bem sucedido, contribuem para um prejuízo da qualidade de vida registrado em pacientes com SC após a cura da doença.
Cushing's syndrome (CS) is a chronic and systemic disease caused by endogenous or exogenous hypercortisolism, associated with an increase of mortality rate due to the clinical consequences of glucocorticoid excess, especially cardiovascular diseases. After cure, usually obtained by the surgical removal of the tumor responsible for the disease, the normalization of cortisol secretion is not constantly followed by the recovery of the clinical complications developed during the active disease, and it is often followed by the development of novel clinical manifestations induced by the fall of cortisol levels. These evidences were mostly documented in patients with pituitary-dependent CS, after surgical resection of the pituitary tumor. Indeed, despite an improvement of the mortality rate, metabolic syndrome and the consequent cardiovascular risk have been found to partially persist after disease remission, strictly correlated to the insulin resistance. Skeletal diseases, mainly osteoporosis, improve after normalization of cortisol levels but require a long period of time or the use of specific treatment, mainly bisphosphonates, to reach the normalization of bone mass. A relevant improvement or resolution of mental disturbances has been described in patients cured from CS, although in several cases, cognitive decline persisted and psychological or psychiatric improvement was erratic, delayed, or incomplete. On the other hand, development or exacerbation of autoimmune disorders, mainly thyroid autoimmune diseases, was documented in predisposed patients with CS after disease remission. The totality of these complications persisting or occurring after successful treatment contribute to the impairment of quality of life registered in patients with CS after disease cure.