RESUMO Objetivo: Os papéis relacionados a cuidados nos grupos familiares têm sido, historicamente, uma atribuição de mulheres. Este artigo aborda as especificidades de gênero no cuidado com pacientes no contexto de avaliações por demandas de hospitalizações psiquiátricas compulsórias, a fim de verificar se, nesse contexto, as tarefas de cuidado são, ainda, atribuídas predominantemente a mulheres. Métodos: Este é um estudo observacional, descritivo, de casos múltiplos, que acompanhou 80 atendimentos de famílias em avaliações em processos de hospitalização psiquiátrica compulsória de junho de 2020 a fevereiro de 2022, no município de Alvorada-RS. Resultados: Mulheres estiveram diretamente envolvidas, como requerentes, em 78% dos casos. Em apenas 18 atendimentos não havia mulheres presentes como acompanhantes, mas 14 desses casos não tiveram qualquer rede familiar ou social identificada. A participação predominante de mulheres não pode ser associada à renda do familiar e nem a características dos pacientes ou de sua condição clínica. Em análise de entrevistas de seguimento com familiares, reitera-se que o ato de cuidar se mantém atribuído às mulheres. O acúmulo de papéis a serem desempenhados também foi evidenciado. Conclusões: A delegação do cuidado gera sobrecarga nas mulheres, gerando sentimentos como medo, apreensão e insegurança. Capacitação e sensibilização de equipes para um olhar sistêmico e de gênero, propondo ativamente a inclusão de demais familiares e redistribuição de tarefas, parece fazer parte das possibilidades de cuidado com quem cuida também nesse contexto.
ABSTRACT Objective: Care roles in family groups have historically been assigned to women. This paper addresses gender specificities in patient care in the context of assessments due to compulsory psychiatric hospitalizations, in order to verify whether, in this context, care tasks are still predominantly assigned to women. Methods: This is an observational, descriptive, multiple-case study that followed 80 family visits in evaluations in compulsory psychiatric hospitalization processes from June 2020 to February 2022, in the city of Alvorada-RS. Results: Women were directly involved, as applicants, in 78% of cases. In only 18 consultations there were no women present as companions, but 14 of these cases did not have any family or social network identified. The predominant participation of women can not be associated with family income or characteristics of patients or their clinical condition. In the analysis of follow-up interviews with family members, it is reiterated that the act of caring remains attributed to women. The accumulation of roles to be performed was also evidenced. Conclusions: the delegation of care generates overload in women, generating feelings such as fear, apprehension and insecurity. Training and sensitization of teams for a systemic and gender perspective, actively proposing the inclusion of other family members and the redistribution of tasks, seems to be part of a possible caregivers caring strategy also in this context.