OBJETIVO: Avaliar aspectos emocionais e sociais na vivência do aborto e o diagnóstico de depressão maior comparando mulheres de duas capitais brasileiras (São Paulo e Natal). MÉTODOS: Estudo transversal realizado de janeiro de 2009 a maio de 2010, envolvendo a realização de entrevistas semidirigidas com mulheres em situação de abortamento (interrupção até a 22a semana de gestação) atendidas em hospitais universitários de São Paulo (n = 166) e Natal (n = 150). Para o diagnóstico de depressão, foi aplicada a versão em português do instrumento Primary Care Evaluation of Mental Disorders (PRIME-MD). RESULTADOS: Não houve diferença significativa (p = 0,223) na proporção de abortamentos provocados: Natal (7,3%) e São Paulo (12,0%). O diagnóstico de depressão foi elevado nas mulheres em situação de abortamento, em proporção significativamente maior na cidade de Natal do que em São Paulo (50,7% contra 32,5%, respectivamente, p < 0,01). Quanto aos aspectos emocionais, não houve diferença na ocorrência de sentimentos de culpa (Natal 27,7%; São Paulo 23,3%; p = 0,447). A participação do companheiro foi satisfatória pelas mulheres em proporção semelhante nas capitais (Natal 62,0%; São Paulo 59,0%; p = 0,576). Não se constata diferença na proporção de mulheres que relatam ter sofrido violência, relacionada ou não ao aborto (Natal 22,9%; São Paulo 16,6%; p = 0,378). CONCLUSÃO: Embora não tenha sido constatada diferença entre os aspectos emocionais e sociais na comparação entre as duas capitais, verificou-se elevada proporção de mulheres com depressão maior, sendo mais frequente na cidade de Natal, o que denota a importância de suporte psicossocial nos serviços de atenção à saúde da mulher.
OBJECTIVE: To assess emotional and social aspects in the experience of abortion and the diagnosis of major depression, comparing women from two Brazilian cities (São Paulo - SP, Natal - RN). METHODS: A transversal study was carried out from January 2009 to May 2010, through semi-directed interviews with women undergoing an abortion (up to 22 weeks gestation) treated at university hospitals in São Paulo - SP (n = 166) and Natal - RN (n = 150). The Portuguese version of the Primary Care Evaluation of Mental Disorders (PRIME-MD) instrument was applied for the diagnosis of depression. RESULTS: There was no significant difference (p = 0.223) in the proportion of induced abortions when comparing the two capital cities: Natal (7.3%) and São Paulo (12.0%). The diagnosis of depression was high among women undergoing an abortion and was significantly higher in Natal than in São Paulo (50.7% vs. 32.5%, p < 0.01). Regarding emotional aspects, there was no difference in the occurrence of guilt feelings (Natal 27.7%; São Paulo 23.3%; p = 0.447). The partner's involvement was considered satisfactory by women in similar proportions in the two capitals (Natal 62.0%; São Paulo 59.0%, p = 0.576). No difference was found in the proportion of women who reported violence, related or not to the abortion (Natal 22.9%; São Paulo 16.6%; p = 0.378). CONCLUSION: Although there was no difference between the emotional and social aspects in the comparison between the two capitals, there was a high proportion of women with major depression, more frequent in the city of Natal than in São Paulo, which demonstrates the importance of psychosocial support in the women's healthcare system.